Grupo resgata repertório do samba em BH

Jéssica Malta
Hoje em Dia - Belo Horizonte
07/12/2017 às 19:15.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:07
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Parece que o samba não tem história em Belo Horizonte, mas ele tem”, garante Mário César de Almeida. Um dos integrantes da Velha Guarda da escola Unidos Guarani, ele é uma das pessoas dispostas a provar e resgatar a ligação da capital com o gênero musical. “A diferença é que o Rio de Janeiro e São Paulo fizeram o dever de casa, aqui pulamos algumas etapas. Mas eu tenho certeza que o serviço ainda dá para ser feito”, afirma. 

A confiança é tamanha que há 10 anos ele mantém um projeto, junto da Velha Guarda da escola, que recupera antigos sambas belo-horizontinos e produz novas composições. 

Para mergulhar de vez nas origens do ritmo em BH, o grupo tem os pés fincados no berço do samba da capital: a Pedreira Prado Lopes. Além de ser a casa da Unidos Guarani, o morro também foi palco da primeira escola da capital – a Pedreira Unida, fundada na década de 1930. “Aqui foi onde tudo começou, então temos que voltar ao início para resgatar esses valores”, afirma Almeida. 

Ele conta que o trabalho é feito principalmente através de conversas com antigos moradores da região. “É interessante porque a gente tem sempre essa ligação com a África, que tem sua história contada oralmente, assim como a da Pedreira”, compara.

Apesar de pouco conhecida, a relação entre a Pedreira e o samba tem contornos nacionais e antigos, quando uma canção de Rômulo Paes, “Sebastiana da Silva”, que versa sobre uma personagem local, foi gravada pela mítica Dalva de Oliveira. “Como essa música chegou até ela? Isso ainda é um mistério. Aí a gente nota que a história da Pedreira é muito maior do que a gente conhece hoje em dia”, ressalta Almeida. 

As memórias da comunidade estão intimamente ligadas ao ritmo. “O samba é a linguagem desse povo. Eles falam através dele”, ressalta. Prova disso é que algumas das canções resgatadas trouxeram descobertas sobre a história do bairro. “A música mais antiga que a gente tem é da construção do IAPI. Removeram os pedreirenses que estavam lá, mas eles deixaram o samba para contar história”, diz Almeida. “Se não fosse por essa música, não teríamos registro de que a favela ia até a Antônio Carlos”, ressalta. 

A Pedreira resgata o samba e o samba resgata a Pedreira

Aos 73 anos, Ademar Sebastião da Silva é um membro fiel da Velha Guarda da Unidos Guarani. O grupo se reúne semanalmente na Escola Municipal de Belo Horizonte, sediada na Pedreira, para ensaiar o repertório do projeto, que busca patrocínio para ser transformado em CD. “Faço força para que o projeto dê certo. Não falto hora nenhuma. Todo ensaio, toda apresentação, eu estou. E hoje, também, o que vou fazer mais? Vou aproveitar o resto de vida que eu tenho, então estou aí para o que der e vier”, garante ele. 

Frequentador assíduo da Lagoinha e da Pedreira Prado Lopes nos tempos em que a boêmia era a marca da região, ele ressalta a esperança depositada na iniciativa. “O lugar foi deteriorando muito. Precisa melhorar alguma coisa, porque hoje as pessoas só pensam em matar, usar drogas. Então, se tiver um grupo de samba, talvez ele tire um bocado de pessoas dessa área, né? Talvez não tire todo mundo, mas tirando um pouco já vai ajudar”. 

Mário César Almeida conta que a iniciativa, inclusive, ultrapassa as fronteiras do samba. “A ideia é que os olhos se voltem para Pedreira. Esse projeto, na verdade, faz parte de algo maior que é o resgate cultural da Lagoinha”, conta “Aqui temos um potencial cultural, que em lugar nenhum em Belo Horizonte tem”, ressalta. “A Lapa, até outro dia, era temida por todos e hoje é um centro cultural poderoso no Rio de Janeiro. Então a gente pode fazer isso aqui também”, diz Almeida. 

Ele inclusive possuí planos ambiciosos para a região. “Temos um projeto chamado ‘Lagoinha 72 horas’ para que os bares fiquem o fim de semana inteiro abertos. Queremos também colocar uma feira. Acho que quando um deles der certo, os outros também vão. Esse é o primeiro passo”, acredita. 

  

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