(nayara Napoli/divulgação)
Hitmaker nas décadas de 70 e 80, Guilherme Arantes continua tão apaixonado e dedicado à música quanto há três décadas, mas assinala mudanças importantes no cenário, que não foram apenas a queda na venda de discos e o menor poder de fogo das gravadoras. “Costumo dizer, que, na nossa geração, a gente se reunia para chorar junto. Hoje temos a balada, a pegação e um banimento do sentimento”, compara o compositor, que se apresentará amanhã no Sesc Palladium, ao lado da Orquestra de Câmara Opus. O cantor de sucessos como “Planeta Água” e “Cheia de Charme” observa que a balada traz uma dureza necessária para um comportamento de galera reunida em grandes eventos. “A música se torna pano de fundo para algo mais importante, que é a azaração. A música brasileira sempre foi delicada, reflexiva, sentimental e doce. Na nossa época, estávamos mais ligados à liberdade de expressão e à expansão das percepções. Hoje temos uma retração das percepções. Até a forma de se expressar, por meio das redes sociais, surge para nós como algo totalmente inóspito”, lamenta. O artista paulistano de 64 anos se vê como um ser medieval diante do modelo comportamental atual, ditado a partir dos anos 80 pelos movimentos yuppie e hipster, que ele vê como formas de ação mais competitivas. “Isso nos faz muito especiais. A história da música brasileira é muito feminina. Não em seu contingente, mas na linguagem. Nossa música sempre refletiu a feminilidade da alma brasileira, com Noel Rosa, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Cartola, o samba-canção, a bossa nova, Vinícius de Moraes, Tom Jobim”. Ele registra que o endurecimento da linguagem é justificado pelos contextos utilitários da música de entretenimento de massa, “que nos induz a uma série de elementos que possam funcionar para muita gente, num ambiente de multidão”. Arantes, porém, está longe de ser apocalíptico no que diz respeito ao futuro da MPB, enxergando o início de uma mudança entre os novos músicos, que estariam empreendendo uma busca pela doçura perdida. “Vejo que estamos num final de fase. ‘Trem Bala’, de Ana Vilela, é um marco ao trazer a música existencial de volta. E é interessante perceber que esse retorno nasce no sertanejo”, analisa. OrquestraNa apresentação de amanhã, os hits ganharão roupagem orquestral, o que não é nenhuma novidade para o cantor. “Sempre funcionou para mim porque meu tipo de composição é de uma harmonia classicuda”, assinala. Segundo Arantes, as partituras estão amadurecidas há anos, derivadas dos arranjos para os discos, feitos em parceria com nomes de destaque na área, como Eduardo Souto Neto e Wagner Tiso. “Eu retrabalhei esses arranjos e isso virou um acervo, que vem funcionando. Eu acabei me tornando um desses clássicos, ao lado de Ivan Lins e Chico Buarque, com um repertório palatável para orquestra”, acredita. Serviço: Guilherme Arantes e Orquestra Opus. Amanhã, às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046 – Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia), R$ 32 (comerciário)