"Heart of a dog" faz uma homenagem a Lou Reed em Veneza

Agência France Presse
09/09/2015 às 17:11.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:42
 (TIZIANA FABI/AFP)

(TIZIANA FABI/AFP)

A americana Laurie Anderson prestou uma homenagem ao roqueiro Lou Reed, seu marido falecido em 2013, ao apresentar no Festival de Veneza o filme "Heart of a dog", que fala de forma delicada sobre o significado da vida. Casada com o roqueiro americano por 21 anos, Laurie Anderson contou à imprensa sobre o dia em que Lou Reed morreu.

"Eu nunca tinha visto uma expressão tão bela. Suas mãos se juntaram, formando o 21 na arte do Tai Chi, o que representa a água corrente. Seus olhos estavam bem abertos. Eu estava segurando em meus braços a pessoa que mais amava no mundo e eu pude falar com ele até que sua morte. Então, seu coração parou de bater. Ele não estava com medo e eu teria sido capaz de andar com ele até o fim do mundo", relatou.

Este imenso amor pelo marido, Laurie Anderson, performer, cantora, violonista e poeta, quis traduzir em filme, 29 anos após a realização de "Home of the Brave". "Heart of a Dog" é um longa-metragem de 75 minutos elegantes, profundos, emocionais e cheios de estética, em que a artista de 68 anos de idade evoca o luto de seu marido, mas também, mais recentemente, o de sua mãe e de sua amada cadela terrier, Lolabelle.

Gotas de água feito pérolas, folhas embaladas pelo vento de outono nas árvores de Nova York ... O filme é cheio da filosofia budista, que é cara para o casal. "Eu prefiro provocar reações em vez de explicar o meu trabalho", afirma Laurie Anderson, uma das musas do avant-garde americano.


Não há por que chorar
Presença constante, a voz do artista americano é uma canção que explora os temas do amor, da morte e da linguagem. E para a trilha sonora, que ela também assinou, ela usa o violino solo, em quarteto e eletrônico.

Ela conta a sua própria vida, sua infância em Illinois, sua lembrança de 11 de setembro de 2001 em Nova York, mas também dos velhos tempos e o último suspiro de sua cadela cega.

"A tristeza, devemos sentir, mas não sermos tristes", costumava dizer seu guru budista, um princípio de vida que perpassa todo o filme, que mistura anedotas e pequenos eventos, como tantos outros poemas em homenagem a seu marido. Este, porém, não é mencionado sequer uma vez.

"O espírito de Lou está muito presente no filme", diz a viúva. "Eu queria fazer algo que fosse uma homenagem ao meu marido, mas que também respeitasse uma parte de sua personalidade. Eu queria especialmente que o filme refletisse sua grande energia".

Para a diretora, que aproveitou a oportunidade para expressar suas reflexões pessoais sobre a vida, angústias, sonhos e memórias, "a memória dá uma cor diferente" para as coisas.

Ela medita sobre o que os budistas chamam de "bardo", este estado intermediário após a morte de alguém, que dura 49 dias, durante o qual a identidade se rompe e a consciência se prepara para reencarnar em outra forma de vida. "Não há porque chorar por seus mortos", aconselha a artista, argumentando que cada história de amor é essencialmente uma história entre fantasmas.

Ao dar aos telespectadores suas teorias sobre o sono, imaginação e luto desorientador, Laurie Anderson coloca o problema do tempo e sua relação com a identidade. Será esta uma peregrinação? E se assim for, para onde estamos indo?

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