"Histórias de Um Lobo" defende animal "semeador do cerrado"

Elemara Duarte - Hoje em Dia
30/12/2013 às 08:04.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:03
 (Adriano Gambarini/Divulgação)

(Adriano Gambarini/Divulgação)

O lobo-guará é tímido, vive sozinho, tem as frutas como alimento de preferência no cardápio e, ainda por cima, ajuda na recomposição de áreas verdes. É por esse comportamento biologicamente responsável que o biólogo Rogério Cunha de Paula e o fotógrafo Adriano Gambarini defendem a boa fama do bicho e lançam “Histórias de Um Lobo” (Editora Avis Brasilis).

A publicação em capa dura é recheada de imagens preciosas desse que é um dos mais lendários animais do Brasil.

“Histórias de Um Lobo” não fica restrito a um enfadonho relato sobre a biologia do animal.

É nesse “pulo do gato” – ou melhor – do lobo-guará – que os autores apostam a angulação do livro. Eles afirmam que o trabalho é o primeiro a relacionar fauna à cultura que a cerca. E põe cultura, beleza e mistérios nisso!

O livro é o resultado de 15 anos de estudos dos pesquisadores no Cerrado, especialmente na região da Serra da Canastra.

Rogério é coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Lobo-Guará e do Grupo de Trabalho para a Proteção do Lobo-Guará na América do Sul.

Mas como toda essa afinidade começou? “A gente teve a simpatia, como se fosse um ‘chamado’. Brinco dizendo que foi essa a sensação que tivemos”, conta o biólogo.

Sendo um “chamado” místico ou não, o fato é que graças a iniciativas como essa que a fama de mau do lobo dourado, tem ficado mesmo só nas lendas.

Como não precisa de ajuda, é melhor que não atrapalhe

É dúbia a relação humana com os lobos-guarás. Eles podem ser os implacáveis “comedores de galinhas” em fazendas, ou fornecedores de preciosos amuletos que livram dor de dente ou mau-olhado. Obviamente que nem tudo é verdade. Pelo menos, a parte pretensamente medicinal promovida pelo bicho.

Dente de lobo pendurado no pescoço evita dor de dente? Mentira. Colocar a pele do lobo curtida em baixo da sela sob o cavalo evita dor nas costas do cavaleiro? Outra ilusão. Ou quem sabe se fizermos um amuleto com a unha do lobo para jamais toparmos com cobras venenosas? “Não tem fundamento algum”, reforça Rogério Cunha de Paula.

Assim, entre vilão e símbolo de coragem de quem todo mundo quer tirar um pedaço, o animal tenta sobreviver. “Se o animal se chamasse apenas guará, metade dos problemas dele estariam resolvidos”, garante o autor.

O biólogo diz que há momentos em que o animal é amarelo palha, quando se camufla no capim. Em outros momentos, é vermelho como define o “guará” no nome, vindo de línguas indígenas.

A Salvação

A superstição doentia já não é tanto a causa da extinção dos lobos-guarás. Os motivos vão desde a expansão das áreas agricultáveis ou atropelamentos em rodovias, até a degradação do cerrado por outras economias.

Conhecido como “semeador do cerrado”, o animal é capaz de regenerar grandes extensões de campo, sem ajuda humana. “Quando defeca, ele recompõe áreas e mantém o cerrado em pé”, diz Rogério Cunha de Paula.

Então, já que o homem não precisa ajudar, é melhor que não atrapalhe. Estimativa de uma década atrás apontava a existência de aproximadamente 22 mil lobos-guará no Brasil. O que, para o biólogo e autor de “Histórias de Um Lobo” é um número alto.

Porém, a ruga na testa, considera Rogério, é que o “declínio” dessa população tem sido muito rápido. O livro está sendo publicado por meio da Lei Rouanet, com patrocínio da Tetra Pak.
 

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