Hyldon percebeu que as músicas que andam tocando nas rádios ultimamente não são mais bonitas como antigamente. “Elas não têm nem mais introduções. Já começa com um ‘pre-pa-ra’ ou ‘caraca, moleque’. Antigamente, reconhecíamos as músicas por suas introduções”, conta o soulman, citando sucessos de Anitta e Thiaguinho.
A partir dessa observação, ele decidiu investir em uma música bonita, trabalhada, com letras mais bem elaboradas e foco nas melodias. O resultado é o álbum “As Coisas Simples da Vida”, que saiu em CD pela Deck e, no futuro, será lançado em vinil pela Polysom.
Segundo Hyldon, houve neste trabalho um cuidado ainda maior do que foi dedicado aos álbuns anteriores. Fez questão de caprichar nas gravações de voz (testando vários takes) e se debruçou sobre cada letra de forma cuidadosa. “Jogo no time do Chico (Buarque) e tinha um auxílio luxuoso dele quando tinha alguma dúvida sobre as minhas letras”, lembra Hyldon, acrescentando que aprendeu com o amigo a importância de se lapidar os versos. “Antes eu achava que a música vinha num momento especial de inspiração. Acreditava que aquilo era sagrado e não deveria ser mexido. Dessa vez, trabalhei as letras até a hora de gravar a voz”.
Burilamento
Uma canção que mereceu essa atenção especial foi “Papai e Mamãe”, música que ele começou a compor em 1971, mas nunca havia conseguido terminar. Trata-se de uma faixa sobre as brincadeiras da infância e levou alguns dias anotando o que poderia ser citado na letra. “Queria músicas com conteúdo, que fossem verdadeiras. Quis usar muito a memória, os amores, os sentimentos”.
O processo de burilamento das músicas não aconteceu somente no estúdio. Foi na rua que Hyldon buscou inspiração nas coisas simples da vida que dão nome ao trabalho. “Nesse período eu li bastante. Me inspirei em Manoel de Barros e na escritora espanhola Rosa Monteiro. Fui à exposição de Kandinsky (‘Tudo Começa num Ponto’, no CCBB) e ao concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira. Também passei a ouvir muito mais jazz”, afirma o músico baiano.