Idade de Ouro de Hollywood continua viva em asilo de Los Angeles

AFP
09/06/2016 às 10:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:49
 (Robyn Beck/AFP)

(Robyn Beck/AFP)

Dizem que Johnny Weissmuller atravessava os corredores deste lar para idosos, dando seu particular grito de Tarzã. Um morador ainda se lembra de seu encontro frustrado com a diva Marilyn Monroe. Outro conta histórias sobre Walt Disney ou Frank Sinatra.

Hoje, a Idade de Ouro de Hollywood é apenas uma velha lembrança, mas suas histórias e glamour ainda reluzem neste asilo para idosos em Los Angeles, onde moram ex-funcionários da indústria do cinema e da TV.

A instituição reúne personagens muito diversos e igualmente interessantes: do cenógrafo de "Doutor Jivago" a um integrante da equipe de "Star Trek" e "Chinatown" e uma atriz de 103 anos que conheceu Sinatra e se apresentou em um teste, recentemente.

"As pessoas que vivem aqui tiveram todo tipo de trabalho no mundo do cinema e da televisão", afirma Bob Beitcher, o presidente e CEO do Fundo para o Cinema e a TV (MPTF, na sigla em inglês), instituição responsável pela casa de repouso.

Criado em 1921 por quatro renomados cineastas, entre eles Charles Chaplin e Douglas Fairbanks, MPTF tinha como missão inicial ajudar as estrelas do cinema mudo a se adaptarem na transição para o cinema falado.

Desde seu início, essa organização beneficente foi financiada por intermédio de pequenas doações de artistas ativos que depositavam moedas em cofrinhos nos estúdios de gravação.

Quase um século depois, o Fundo continua funcionado à base de doações. Agora, porém, elas são bem maiores, de artistas como George Clooney, Kirk Douglas e Steven Spielberg.

"Nenhuma outra indústria no mundo fez algo parecido com o que o MPTF fez, e isso é o que torna essas aportes algo tão importante", explica Beitcher.

"As pessoas que trabalham na indústria do cinema são como ciganos. Mudam de lugar, tiram suas famílias ao mudar de Louisianna para Nova York, ou para a Europa... E muitos fazem trabalhos exigentes do ponto de vista físico, o que é realmente duro para eles."

Quase metade dos 165 residentes paga a cota mensal de seu quarto e os serviços, entre US$ 3,4 mil e US$ 6,1 mil por mês. O MPTF financia a outra metade.

'Quanto mais conhecidos, mais adoráveis'
Embora muitos dos residentes tenham sido celebridades, a maioria trabalhou atrás das câmeras.

Steven Kohler, de 87 anos, pode enumerar uma impressionante lista de estrelas, com as quais trabalhou como cenógrafo, como Omar Sharif e Julie Christie, de "Doutor Jivago" (1966).

Kohler conheceu Marlon Brando na filmagem do histórico "O grande motim" (1962). Era um "cavalheiro com um grande coração, alguém generoso que, com enorme discrição, ajudava as pessoas", comentou.

"Quanto mais conhecidos eram os atores, mais adoráveis eles eram", disse Kohler, sentado em seu cantinho impecavelmente decorado.

Encontro com Marylin
A família de Robert Mirisch, de 77, dirigia uma das maiores produtoras independentes de Hollywood nos anos 1960: a Mirisch Company. Até hoje, Robert gosta de relembrar o caso de seu frustrado date com Marylin Monroe.

Ele a conheceu na filmagem da comédia "Quanto mais quente melhor", produzida pela companhia de sua família. Depois que o filme terminou de ser rodado, ela lhe pediu que a acompanhasse à estreia, em Nova York. Com o pai doente naquele momento, Robert declinou o convite da atriz para visitá-lo.

"Então, eu sou o homem que cancelou um encontro com Marilyn Monroe. E, depois, meu pai teve a sorte de gozar muitos anos de boa saúde", brincou Mirisch, que atuou como advogado da indústria do entretenimento.

Sem pensar em aposentadoria
A vida nesse lar para idosos é muito mais do que lembranças do mundo do espetáculo, carteado, ou hidroginástica na piscina doada pela atriz e diretora Jodie Foster.

Muitos aproveitam a criatividade ainda presente para colaborar com o canal de televisão da casa, com documentários, programas de concursos e até "Lei e desordem", uma paródia da célebre série policial americana "Law and Order".

"A criatividade não acaba quando você tem 65", ironiza Bob Beitcher.

Alguns dos residentes, como Connie Sawyer, de 103 anos, continuam ativos, longe de pensar na aposentadoria.

Sawyer, que trabalhou com estrelas como Frank Sinatra, apareceu no ano passado no comercial da famosa final do campeonato de futebol americano "Super Bowl". Recentemente, foi a um teste para conseguir um papel em um filme de terror.

"Estou esperando a resposta", contou.

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