(Cássio Campos/Divulgação)
A Casa do Baile sempre exerceu fascínio sobre a artista plástica mineira Laura Belém, “pelas contradições de sua própria história”. Ela explica: “(O espaço) Foi projetado para ser um restaurante popular dançante numa época marcada pelo crescimento e pela utopia, mas teve um destino não muito favorável no decorrer das décadas, passando inclusive por tentativas de arrendamento e cumprindo funções muito distintas daquelas a que esteve originalmente destinada”, diz, referindo-se ao endereço que, desde ontem, abriga sua mais recente mostra, “Ilha Restaurante”.
A artista resgatou a memória do icônico ponto, problematizando questões como a utopia do projeto modernista, a memória, a passagem do tempo e a fatores políticos que o influenciaram. Claro, não é fácil tocar em algo que aparentemente é tão caro aos belo-horizontinos. Mas Laura assumiu o desafio regado à utopia do chamado “projeto modernista”. Mas nada de panfletagens críticas em relação a um passado que não volta mais.
Laura aposta mais na poética do discurso a que se propõe enquanto artista. Neste contexto, a instalação faz referência a três densas obras: “Sounddance” (1975), do coreógrafo nova-iorquino Merce Cunningham; “Café Müller” (1978), da alemã Pina Bausch, também do universo da dança, e ao filme “O Baile” (1983), do italiano Ettore Scola. Obras que dialogam, em algum momento, com a história da Casa do Baile, inaugurada em 1943.
No bojo da obra, palpita uma ideia de circularidade, propiciada por uma viagem pelo espaço e pelo tempo, que aponta para a possibilidade de reconstrução, após a ruína subsequente ao sonho.
O projeto da Pampulha, diz Laura, foi sem dúvida ambicioso. “E este conjunto é uma pérola na carreira de Niemeyer”. Por outro lado, ela lembra que, nos dias de hoje, passados mais de 50 anos da inauguração da Casa do Baile, há vários problemas no entorno que precisam ser pensados – e, claro, solucionados.
“Ilha Restaurante”– Laura Belém. Até 22/11, de terça a domingo, de 9 às 18h. Casa do Baile (av. Otacílio Negrão de Lima, 751 – Fone: 3277-7443). Entrada gratuita. No dia 7/11, às 10h30, haverá uma conversa com a artista.