TEERÃ - Aos olhos do governo iraniano, a escolha da primeira-dama americana, Michelle Obama, para anunciar o Oscar de melhor filme para "Argo", na noite de domingo (24), é a prova definitiva de que Hollywood segue uma agenda política.
Na primeira reação oficial de Teerã ao Oscar, as agências pró-regime Mehr e Fars disseram que a Academia só recorreu a Michelle Obama por se tratar de um "filme anti-Irã".
A avaliação foi corroborada por críticos de cinema alinhados com o regime, que já anunciou planos de lançar uma superprodução para divulgar sua visão da tomada de reféns na embaixada.
"Ficou claro que o cinema e a política nos EUA estão totalmente interligados", disse o crítico Hossein Soltan Mohammadi.
Também foi rejeitado o discurso de vitória do diretor e ator Ben Affleck, no qual disse que "os iranianos vivem sob circunstâncias terríveis". Segundo a Mehr, Affleck "distorceu a história e continua mostrando uma imagem sombria do Irã".
O professor de cinema Jabbar Azin afirmou que "Argo" foi pensado e financiado por "sionistas" para servir a "arrogância global".
Destoando do tom predominante na mídia iraniana, o jornal centrista "Hamshahri" destacou que "Argo" merece ser visto por mostrar a perspectiva americana e incentivar a reflexão acerca do sequestro, que levou EUA e Irã à ruptura.
Embora banido na república islâmica, "Argo" pode ser facilmente comprado em pontos de venda de DVDs piratas nas grandes cidades. Uma cópia custa o equivalente a R$ 1,50.
O filme faz sucesso principalmente entre jovens. Pessoas que vivenciaram a revolução islâmica de 1979 tendem a gostar menos porque a obra, segundo eles, subestima razões históricas que levaram os iranianos a derrubar a ditadura pró-americana do xá Reza Pahlevi.