(Europa Filmes)
Uma das sequências de "Vendo ou Alugo" reúne os personagens numa divertida balbúrdia. Para não estragar a surpresa, basta dizer que a razão dessa "zona" é o ingrediente adicionado a um bolo que deixa todo mundo bem soltinho.
Elenco e equipe técnica admitem que foi a cena mais difícil do filme, porque não havia marcação prévia para o câmera saber onde cada ator ficaria. "A gente não sabe como deu certo", diverte-se Marco Palmeira, um dos protagonistas da comédia que também estreia hoje.
"Chegamos a um ponto que não sabíamos o que estávamos fazendo, numa dinâmica muito louca. Fotografia e montagem tiveram o mérito em dar o mínimo de sentido a essa loucura, em que todo mundo entrou na onda do bolo", avalia.
No papel de uma mulher que precisa vender a sua casa para saldar dívidas, Marieta Severo registra que as situações e diálogos foram criados na hora, um frescor que é resultado da grande intimidade presente no set.
Em família
Ela tem ao seu lado Sílvia Buarque, fruto do casamento com Chico Buarque, enquanto a diretora Betse de Paula põe em cena seu irmão (Palmeira) e a filha (Beatriz Morgana).
Outro fator preponderante para que tamanha improvisação não saia do controle é o estilo de Betse. Para Marieta, o humor do filme é uma reprodução da personalidade da cineasta.
"Quando ela entra no set, já está tudo elaborado em sua cabeça, o que propicia essa soltura", assinala. A produtora Mariza Leão ressalta o carinho dela com o elenco, servindo cafezinho para eles no intervalo.
"A coisa mais importante de um filme são os atores e os personagens. A base de tudo está na construção desses personagens", explica Betse, que tem o cinema em seu DNA – além do irmão ator, o pai é cineasta (Zelito Viana, de "Villa Lobos – Uma Vida de Paixão").
Violência
"A Betse não sabe fazer outra coisa. Com esse talento que tem, deveria fazer filmes com maior frequência e não ficar dependendo de editais para trabalhar", lamenta Mariza.
A produtora destaca que "Vendo ou Alugo" tem um lado operístico, com Betse orquestrando um conjunto de situações.
Outro mérito do filme é, na ótica do ator André Mattos, a abordagem sobre a crescente onda de violência. "Fala disso sem dar um tiro, sem explodir cabeças. O Rio de Janeiro está decadente, mas ainda é belo. É uma visão muito carioca e alegre sobre a vida na cidade", avalia.
Marieta define os personagens como fracassados, mas que veem a sua realidade com muito otimismo e humor. "A comédia é uma arma poderosa, como um bisturi cirúrgico. Você pode aprofundar e chegar com maior rapidez, mais do que o drama, ao que deseja falar", afirma.
Assalto
A atriz diz que o humor faz parte da cultura brasileira e vê com bons olhos o resgate dos elementos da chanchada. Prova disso é que uma das inspirações do roteiro foi o assalto ocorrido na casa dos pais de Betse, em 2006, em que Palmeira foi agredido com uma coronhada.
"Essa é a nossa realidade. Mas não enfocamos a guerra contra a favela. Buscamos falar de convivência, de quatro mulheres que precisam conviver com essa situação. Outras coisas também foram absorvidas do real, como casas na favela que viram albergues".
O filme entra em cartaz em 179 cinemas do país, embalado pela boa recepção no Cine PE – Festival do Audiovisual, quando recebeu 12 troféus, entre eles o de melhor longa no voto dos júris oficial, popular e da crítica.