‘Isso é só o começo’

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
30/03/2014 às 09:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:50
 (Flora Pimentel/Divulgação)

(Flora Pimentel/Divulgação)

Sem o menor exagero, foi bem aos 45 do segundo tempo. Quando os integrantes da Orquestra Jovem de Contagem souberam que Lenine ia passar por ali só para vê-los tocar, a turminha perdeu-se em alvoroços e não hesitou: quis porque quis aprender a tocar uma música do cantor. Evidentemente, não bastava sair tocando ao léu qualquer canção – tampouco de qualquer jeito. Afinal, como uma legítima orquestra, os integrantes queriam fazer bonito diante do seu ilustre visitante.    Entre os dez discos lançados pelo pernambucano ao longo de 30 anos de carreira, eles decidiram apresentar “Paciência” – música do álbum “Na Pressão”, de1999. O tempo para ensaio foi “pra” lá de curto. As partituras só chegaram às mãos dos 40 músicos mirins seis dias antes da apresentação – que aconteceu no último dia 19, na sede da Orquestra, em  Contagem   Era preciso entoar violinos, violões, violoncelos... Mas não só. Aos 12 anos, a estudante da 7ª série, Luana Camila, pediu ao regente, Renato Almeida, de 45, para cantar a música. “É que minha mãe escuta Lenine desde sua juventude. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi ‘ele cantar lá em casa’”, justificou a menina. Como recusar?    “Quis homenageá-lo desse jeito. É como retribuir a presença dele na minha casa por todo esse tempo. E minha mãe também vai ficar orgulhosa de mim, né? Ela é a fã número um dele. Sempre está cantando ‘O Último Pôr-do-sol’”, revelou a garota, que também faz aulas de violino e percussão.   E foi nesse território de ansiedade e alegria incontida que Lenine pisou – e vem pisando – desde o início do mês, quando passou a visitar projetos socioambientais de todo o país.    Por aqui, Lenine também passou pelo Circo de Todo Mundo.   “Eu sinceramente não quero ver relatórios de projetos. O que me move e comove são as pessoas. É por causa delas que estou aqui”, explicou o artista, sem imaginar a surpresa que estava por vir.   Na agenda da Orquestra, a visita programava apenas a apresentação das músicas “Baião Barroco”, de Juarez Moreira, e “Bachianas número 4”, de Villa Lobos. “Mas, Lenine, decidimos tocar também uma de suas músicas. A gente ensaiou um pouquinho, então, não repare qualquer erro não”, pediu Renato, depois de desejar boas-vindas ao músico visitante.   “Estou completamente bem-vindo! Que beleza são vocês! Estou aqui, como pinto no lixo, vendo-os tocar. Vocês conhecem essa expressão? A gente fala isso demais em Recife. Pois estou ciscando de felicidade”, brincou Lenine antes de ouvir atento – e dar uma forcinha a Luana na hora de cantarolar “Paciência”.   “Ô gente, vocês querem me matar do coração? Não façam isso, não, que eu sou ‘velhinho”, disse o artista arrancando riso dos jovens instrumentistas.   Entre orquídeas, música e educação   Se não fosse músico, não é difícil deduzir que Lenine dedicaria a vida e a carreira ao meio ambiente – uma paixão confessa que ele cultiva há tempos que se perdem de vista. O início talvez tenha sido quando passou a mergulhar na época do Ginásio. Muito antes, aliás, de quando começou a colecionar orquídeas – um assunto onde ainda há de nascer alguém para lhe “passar a perna” – Tavinho Moura, talvez?    Tarefa difícil: Lenine conhece e discute com propriedade sobre um punhado de espécies. No sítio que tem no Rio de Janeiro, há 16 anos, e cuida de mais de seis mil delas.   Mas não só. Hoje, o músico colabora com grupos como o SOS Mata Atlântica e o Albatroz Brasil. Por aqui, além das visitas aos projetos “Orquestra Jovem de Contagem” e “Circo de Todo Mundo”, e promete breve retorno. Já com apresentação confirmada, o músico toca em setembro nos jardins do Instituto Inhotim, em Brumadinho.   Encontros Socioambientais   É natural, portanto, que Lenine, hora ou outra, acabasse reunindo, numa só nota, música e natureza. Foi então que nasceu, com o patrocínio da Petrobrás, o projeto “Encontros Socioambientais com Lenine”.   Nele, o artista passou a percorrer, desde o início do mês, as cinco regiões do país. A ideia é visitar, ao todo, 12 projetos – incluindo os de Minas.    O gerente executivo de Responsabilidade Social da instituição, Armando Tripodi, justifica o apoio: “Acreditamos que a música colabora para que a discussão sobre cidadania e meio ambiente se amplifique e ganhe força na sociedade”.   Para Lenine, um estímulo para continuar fazendo o que gosta, respirando e misturando música com meio ambiente e educação. “São coisas assim que têm o poder de jogar luz sobre as pessoas”.

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