Jean-Luc Godard "escreve com a câmera", segundo estudioso

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
23/02/2013 às 13:29.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:17
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Criador da Nouvelle Vague na década de 60, ao lado de François Truffaut e Eric Rohmer, Jean-Luc Godard, 82 anos, é um dos cineastas mais estudados em todo mundo. Só na França, a trajetória do diretor franco-suíço inspirou quase 200 livros.

Doutor em Literatura Comparada e ensaísta, Mário Alves Coutinho confessa que chegou a ficar com medo de que a sua tese de doutorado, sobre a relação entre o cinema de Godard e a literatura, defendida na UFMG em 2007, não tivesse nada de original. Ledo engano.

Entrevistas

"Apesar do número grande de livros sobre ele, ao trabalhar em minha tese essa relação acabei formulando, sem pretender ser diferente, algo que ninguém tinha concebido por esse prisma", salienta Coutinho, que lançará hoje, na Livraria Quixote, mais um desdobramento de sua pesquisa.

Após publicar "Escrever com a Câmera; a Literatura Cinematográfica de Jean-Luc Godard", em 2010, o autor reúne agora, sob o título "Godard, Cinema, Literatura" (Editora Crisálida), a íntegra das entrevistas feitas com teóricos franceses para a tese.

Nomes como Alain Bergala, Jean Douchet e Jean-Michel Frodon discutem a proposta central da tese de Coutinho, com respostas que comprovam uma linha de raciocínio ausente de outros estudos a respeito de Godard. Tanto que a maioria deles discordou que, em seus filmes, o diretor faz literatura com a câmera.

Discordâncias

"Quase todos os entrevistas escreveram livros sobre Godard e imaginava que iriam prontamente concordar comigo, por estar repetindo uma ideia aceita. Para minha surpresa, a maioria disse que Godard fazia cinema e ponto. Meu orientador na França, François Dubois, avisou que eu teria que me virar para provar o que estava defendendo", ressalta.

Coutinho usa uma definição ampla de literatura, que engloba o filósofo Arthur Schopenhauer e o psicanalista Sigmund Freud. "Tenho para mim que, antes de ser o pai da psicanálise, Freud era um grande escritor, capaz de expressar suas ideias e impressões".

Em "Alphaville" (1965), por exemplo, o autor identifica textos de Schopenhauer e do escritor argentino Jorge Luis Borges, que não são citados explicitamente no longa-metragem. "Todos os filmes dele têm uma proximidade fundamental com a literatura. Basicamente ele trata da arte da palavra, seja ela escrita ou falada", registra.

Escritor

Coutinho destaca que, em várias entrevistas de Godard, ele afirma que seu sonho de adolescente era ser escritor, lançando um livro, de preferência, pela Gallimard, um dos mais prestigiados grupos editoriais da França. "Ele chegou a dizer que, em seus filmes, não tinha nenhuma frase dele. Eram citações".

No Rio de Janeiro, o livro será a atração de uma grande mostra dedicada a Godard, no Espaço Oi Futuro, a partir de maio. Organizado por Coutinho, "Godard e a Educação" também será lançado durante o evento.

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