(Divulgação)
Tudo, verdadeiramente tudo, no novo disco de Jonas Sá é provocativo. Começa pela capa – com foco para o ventre de uma mulher negra –, passa pela sonoridade cheia de ruídos eletrônicos e se fortalece com letras que citam “bocas sujas, becos maus” e “sexy savannah”. “Blam! Blam” (Coqueiro Verde) chegou ao mercado para desconcertar, em contraposição ao primeiro trabalho, “Anormal”, de 2007.
Toda provocação foi, na verdade, construída aos poucos, desde as primeiras gravações em 2011. “Quando comecei a planejar meu segundo disco, sabia que queria um trabalho de colagem e que, conceitualmente, fosse lascivo. Mas a ideia era fazer um disco com samples da música brasileira produzida nos anos 60. Ia se chamar ‘TropCal’, mas fui fazendo as músicas e as ideias foram virando outra coisa”, lembra Jonas Sá, que é filho do compositor Rô Tapajós e irmão de Pedro Sá, guitarrista e produtor de Caetano Veloso.
Chiptune
Além dos vários instrumentos, tocados por amigos talentosos – integrantes dos grupos Tono, Do Amor e Orquestra Imperial –, ele inseriu também muitos barulhinhos eletrônicos, extraídos especialmente de jogos.
“Sempre joguei muito videogame e, em muitas partes do disco, resolvi usar os sons de chiptune (música feita a partir de chips de sons antigos) em contextos acústicos. Experimentei muito enquanto gravava. Editei muito, cortei e colei”, explica Jonas, que trabalhou um processo de criação diferente para cada uma das 14 faixas. “Usei muitas camadas rítmicas. Bateria e percussão conversando com programações de bateria eletrônica, MPC tocada na hora”.
Recusa
Se o trabalho é provocativo, não poderia passar longe de uma polêmica. Três fábricas brasileiras se recusaram a imprimir a capa do álbum – alegando que poderiam receber represálias de clientes da música gospel. Quem o salvou foi Heloisa Aydar, dona da Pommelo.
“O que me foi passado é que nenhuma fábrica iria querer fazer nada com nudez porque havia o risco de que o estoque enviasse caixas do meu disco, por engano, para algum artista de música gospel”.
Equívoco que poderia implicar a na perda de contratos para produção de milhões de discos do gênero. “Então, não se importavam de perder um disco que teria só mil unidades fabricadas. Ou seja, a questão não era moral”, conta o artista, que idealizou o quadril nu e negro em contraste ao fundo rosa, dividindo o crédito da capa polêmica com o fotógrafo Jorge Bispo e a designer Julia Rocha.