(Leandro Franco/Divulgação)
Foi da necessidade de responder à carta deixada pela mãe, falecida há seis anos, que a jornalista e escritora mineira Leila Ferreira escreveu o livro “O Amor Que Sinto Agora”, que tem lançamento hoje em um bate-papo no Teatro Bradesco.
O processo de revisita às palavras deixadas por ela, porém, não foi das tarefas mais fáceis. “Quando comecei a lê-la, anos atrás, não consegui terminá-la. Deixei fechada. Mas há uns dois anos, senti a necessidade de responder, de conversar com ela. Aquela era uma carta que pedia uma resposta, mas aquilo ficou guardado dentro de mim”, conta a autora.
A história mudou de rumo, quando, diante de um outro livro que não conseguia escrever, a autora teve o sinal que precisava. “Eu precisava fazer um romance, mas ele não saía. O computador com a tela em branco gritava na minha frente, cheguei a chorar diante dele, porque tinha um compromisso com a editora. Um dia vi a carta deixada pela minha mãe perto do computador. Ela sempre ficava lá com uma velinha acesa. Foi uma coisa muito bonita. Naquele momento pedi à alma dela que me inspirasse, que me ajudasse a encontrar outro livro e, então, li a carta”, recorda a autora, que não teve dúvidas e deu início à sua nova obra.
Marcada por esse episódio, a obra ganhou um significado ainda maior para a jornalista. “O livro não é só uma resposta, é também uma coisa que ela me apontou”, destaca.
PASSADO
Desabafando de forma corajosa e emocionante, a jornalista revisitou seu passado para desabafar e escrever sobre diversos momentos de sua vida. A narrativa foi construída através de cartas produzidas pela protagonista Ana e endereçadas à sua mãe. “Misturar ficção e realidade me ajudou muito porque não estava escrevendo só sobre a minha realidade, não era só o meu passado ali. Talvez isso tenha surgido para me proteger de alguma forma”, explica.
A proteção foi necessária, já que a autora explora temas difíceis como abuso, violência sexual e depressão. “Falar da minha infância e adolescência foi o mais difícil. Eu vivi passagens extremamente dolorosas e pesadas”, revela Ferreira. “A sensação que temos é que escrever é sobrar as brasas do passado. Você tem a ilusão de que tudo está adormecido, mas quando você escreve, essas brasas se ascendem e não é fácil”, confessa.
Mas as alegrias também fizeram parte desse processo. “O mais bonito foi o movimento de aproximação com a minha mãe. O livro suavizou a perda, atenuou a falta que ela faz na minha vida e a trouxe para muito perto de mim. Desde o momento que comecei a escrevê-lo, eu me sinto mais acompanhada, mais fortalecida”, diz.
As alegrias proporcionadas pela obra se estenderam também para outros campos, além do maternal. “Escrever esse livro acabou me mostrando um outro lado que eu não sabia que tinha, porque nunca imaginei que fosse capaz de escrever ficção, mesmo que sempre leia ficções”, diz.
Serviço: Lançamento do livro “O Amor Que Eu Sinto Agora”, de Leila Ferreira, no Sempre Um Papo, no Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2244 – Lourdes), hoje, às 19h30. Entrada gratuita.