'Judy: Muito Além do Arco- Íris' mostra o declínio da atriz de 'O Mágico de Oz'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
30/01/2020 às 08:33.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:28
 (Divulgação)

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“Judy: Muito Alem do Arco-Íris” vem na carona das cinebiografias musicais que transformaram “Bohemian Rhapsody”, sobre o Queen, e “Rocketman”, calcado na trajetória de Elton John, em grandes sucessos. Uma das principais estreias de hoje, o filme sobre Judy Garland, porém, não busca passar a limpo toda a carreira da protagonista de “O Mágico de Oz” (1939).

Não se fala muito dos filmes e espetáculos que a artista realizou ao longo da carreira, tendo participado da época de ouro de Hollywood. O roteiro foca nos últimos anos de Judy, já bastante debilitada pelo alcoolismo, quando é despejada de um hotel em Nova York e se vê obrigada a deixar os dois filhos com o ex-marido e partir para a Inglaterra, para cantar numa boate.

Enquanto vemos o declínio de Judy, sem exibir qualquer autocontrole em relação às bebidas e à parte emocional, o filme aponta as causas de curto-circuito mental com flashback do início dela no cinema, ao ser contratada para fazer “O Mágico de Oz” por Louis B. Mayer, chefão da MGM – estúdio para o qual trabalhou até 1950, sendo dispensada após um colapso nervoso e uma tentativa de suicídio.

Cada barbitúrico que ela toma para poder dormir é associado às pílulas para não engordar que foi obrigada a tomar pela MGM. Judy foi uma vítima do sistema de estúdios, que praticamente controlavam tudo que dizia respeito aos seus astros, do comportamento aos filmes que deveriam fazer. Neste sentido, Mayer é mostrado como um manipulador que não parava de ameaçar a sua contratada.

Além do Arco-Íris

A Judy que vemos no filme é um fiapo do que foi, num percurso contrário ao tom esperançoso contido na letra de “Somewhere over the Rainbow”, que ela canta em “O Mágico de Oz”, sobre algum lugar além do arco-íris onde sonhos se tornam realidade e problemas derretem como balas de limão. Mesmo no papel de vítima, seria difícil segurar esse descontrole se não fosse Renné Zelwegger.

Favorita para receber o Oscar de melhor atriz, Renné se entrega de corpo e alma ao personagem, conseguindo fazer com que vejamos frestas de luz numa vida prestes a se apagar. Não deixa de lembrar a Bridget Jones do filme homônimo, por vezes ingênua e carente de amor. Embora “Judy” não exiba a ascensão de Garland como artista, Renée traz a dimensão de um ícone que soube dominar o palco como ninguém.

Além de emprestar a sua própria voz à personagem, imprimindo maior veracidade, há um trabalho especial com o olhar. Ele parece se fixar num ponto vago, como se Judy fosse apenas um invólucro, com toda a sua essência sugada pela indústria do entretenimento. Esse deslocamento é a chave para a compreensão da história dirigida por Rupert Gold: a atriz é o reflexo de uma máquina cruel que vendia sonhos.
 

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