Kleiton e Kledir: quando palavras escritas viram palavras para serem ouvidas

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
16/08/2015 às 11:25.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:22
 (Isabel Ramil/Divulgação)

(Isabel Ramil/Divulgação)

Não que essas duas esferas não mantenham flertes constantes. Mas os gaúchos Kleiton e Kledir, nomes referência da cena musical de seu estado, tiveram um insight para o qual não há como não tirar o chapéu. Para os recém-lançados CD e DVD “Com Todas as Letras”, os irmãos Ramil convidaram expoentes da cena literária do Rio Grande do Sul para criar letras inéditas, sob o pretexto de levar a contribuição literária ao ambiente da música popular. Aqui, eles discorrem um pouco mais sobre a iniciativa, cujo espetáculo deverá rodar o Brasil.   A história por trás desse projeto é incrível... Sabem de algum processo similar em algum lugar do mundo? KLEITON – Acredito que seja um projeto original, nunca ouvi falar de algo parecido. Nosso objetivo principal era exatamente promover a aproximação da literatura com a música popular. Trazer essa riqueza do mundo das letras ao nosso universo das canções. Autores de prosa de ficção trazendo um novo olhar, uma outra perspectiva poética e temática. E o resultado é surpreendente. É uma contribuição preciosa.   Quanto tempo consumiu o processo de feitura do projeto? Nas palavras de vocês, qual a etapa mais difícil? KLEDIR – Para falar de tempo, temos que voltar aos anos 70, em Porto Alegre, onde tudo começou. Foi ali que a gente começou a conversar com Caio Fernando Abreu (1948– 1996) sobre a ideia de fazer uma canção. “Lixo e Purpurina” foi o ponto de partida deste projeto e serviu de inspiração para todas as novas parcerias que surgiram. São canções inéditas, criadas com grandes nomes da literatura gaúcha contemporânea: Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Leticia Wierzchowski, Daniel Galera, Paulo Scott, Claudia Tajes, Alcy Cheuiche e Lourenço Cazarré. Não foi um trabalho árduo, ao contrário, foi extremamente prazeroso trabalhar com esse autores que tanto admiramos. Um privilégio.    Como foi a transformação deste projeto em show e, como li, em palestra? KLEITON – Montamos um show radical, só com músicas inéditas, com o repertório do disco. Ao mesmo tempo, o roteiro bem alinhavado com projeções em vídeo e um papo descontraído fazem o espetáculo fluir super bem. No final, a ousadia tem sido aplaudida sempre de pé, o que para nós confirma que andamos na direção certa. Em relação às palestras, um projeto dessa natureza se presta muito para o bate-papo, a reflexão, a troca de ideias. Isso é comum no ambiente literário e acadêmico, mas não no show business. Temos provocado isso, o que para nós é uma ótima oportunidade de estarmos mais próximos do nosso público.   A turnê passa por BH? Como tem sido o contato com o público daqui (redes sociais, site, algo assim?) KLEDIR – A turnê já passou pelo Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Há conversas para Florianópolis, Curitiba, Brasília e Recife. BH até agora não nos convidou... estamos aguardando (risos). Enquanto isso, continuamos em contato com o público via Facebook, onde temos milhares de amigos, e pelo site “K&K – Com Todas as Letras”, onde é possível conhecer o projeto: kleitonekledir.com.br/comtodasasletras/   Nos encontros preliminares com os escritores, para levantar o gosto musical de cada um, podem citar um que tenha surpreendido vocês? KLEITON – Na verdade não houve surpresas, houve, sim, um aprendizado. Os encontros com os escritores parceiros foi muito enriquecedor. Cada um tem seu universo próprio, seu jeito de ser, de viver, de criar. Com cada um deles fomos aprendendo um pouco, afinal, são grandes mestres.   Ok, mas algum surpreendeu com as “palavras para serem ouvidas” que escreveu? KLEDIR – Fiquei muito feliz com a letra do Verissimo. Ele é um escritor com um texto elegante e sempre muito bem humorado. Só poderia esperar que a letra da música tivesse esse tom, mas, para nossa surpresa, ele fez uma viagem lírica, trouxe um olhar poético e iluminado sobre as entrelinhas da natureza humana. Como todos os outros, é a primeira vez que ele escreveu uma letra de música e, para mim, o que surge, aqui, é um novo Verissimo.   Pelo feeling de vocês, qual deve ser a música que mais deve linkar com o público – se é que vão se arriscar a citar apenas uma...  KLEITON – É difícil falar sobre isso. É como pedir a um pai para escolher qual filho prefere. O disco é bem diversificado e deve encontrar um público entusiasmado em diferentes segmentos. Pelo menos é o que temos notado nos shows.

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