Leonardo Marques e Thiago Corrêa lançam discos solo e falam sobre parceria

Thiago Pereira
talberto@hojeemdia.com.br
16/11/2018 às 17:27.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:52
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Não foi nada combinado, mas o fato de Leonardo Marques (o Leo) e Thiago Corrêa (o TC) companheiros na banda Transmissor, lançarem seus novos discos solo praticamente no mesmo tempo (no final deste outubro) inspira pensar na sintonia incrível que os dois músicos possuem, já há duas décadas. 

Desde o primeiro encontro até a óbvia cumplicidade que os dois demonstram na entrevista para o Hoje Em Dia, muita música (e cervejas, histórias e afetos) cimentou esta relação. “O Leo sempre muito introvertido, na dele, não dava muita onda não”, lembra TC, sobre o período que cursavam Letras e Filosofia, respectivamente, na UFMG, por volta de 1998. “Aí um dia fomos, eu e Gustavo (na época, vocalista e guitarrista da banda Diesel) em um show, procurar um novo baixista. E aí vi ele tocando um baixo de ‘19 cordas’ (risos) destruindo, tocando pra caralho. Era uma banda engraçada e tals”, lembra Leo.

A despeito da diferença entre o que a Diesel fazia, e que a banda de TC apresentava, a coisa deu liga. “Eu era encantado com o universo dessa galera, eles tinham um jeito diferente de vestir, eram outras pirações. O negócio artístico, os timbres, era muito diferente do que eu estava acostumado até então, do lance de ser músico freelancer”, diz TC, sobre o estilo “alternativo” da Diesel. “Eram vegetarianos, tinha uma coisa política mesmo. O Ian, que era o baixista antes, tinha uns piercings furados na bochecha...”.

Já como integrante da banda, TC deu vazão ao seu lado “metaleiro” cultivado com audições de rock pesado junto à seu background mais amplo, ao mesmo tempo em que, lembra Leo dizia que “nunca tinha ouvir um disco de música brasileira (risos)”. Leo concorda. “Talvez na época eu não gostava mesmo das coisas cantadas em português. Era um radicalismo, que tinha a ver com os questionamentos que recebíamos em relação ao que fazíamos, cantar rock em inglês: ‘Onde vocês querem chegar com isso?’. Queríamos ir pra fora, tanto que a gente foi”, define o guitarrista. 

“O SHOW”

]Como acontece com muitas pessoas, a fase no estrangeiro é definidora para um processo de “descobrir” a música brasileira. Durante o longo período em que passaram em Los Angeles, Leo viveu isto, impulsionado por TC, quando foram morar juntos, aproximando-os de forma que não acontecia antes. “Aos poucos ele foi me apresentando, sem formalidade, foi chegando. Milton, Tom Jobim, o primeiro show do Transmissor já foi lá”. 

E que show. Bêbados na área externa de uma casa, os dois chegaram a conclusão de que deveriam fazer uma apresentação, onde mostrariam, cada um, suas canções. Ali mesmo, diante de uma fogueira. Para uma platéia imaginária. “Com direito a diálogos entre a gente, como se estivéssemos apresentando as canções, elogiando um ao outro”, lembra TC, trocando risos cúmplices com Leo. 

O próximo passo foi sair do campo da ebriedade e encarar uma noite de palco aberto, em um bar de Los Angeles. Outro “sinal de sorte” como define Leo: encontraram no caminho com o guitarrista do Maroon 5, James Valentine, companheiro de gravadora na época. “Chamamos ele para assistir, mas ele ficou meio relutante, falou que tinha um compromisso mais tarde. No primeiro acorde com sétima maior do show, típico da Bossa Nova, ele mandou um “ah!”, e bateu palma. Terminamos a noite na casa dele, tocando, ele desmarcou o que tinha que fazer”, lembra TC. 

Depois disso, começaram as articulações sobre a guinada artística da virada dos dois. Sai o rock nos EUA, entra o Transmissor em BH.

Na volta ao Brasil, parceria se desdobrou em ações diversas

O Transmissor seria a materialização deste novo trajeto de Leonardo Marques e Thiago Corrêa, pavimentado em canções como “Vem a Chuva”, oficialmente a primeira parceria dos dois–feita em uma festa em Oklahoma. Ao desembarcar no Brasil, a base do repertório já estava pronta, reunindo principalmente canções assinadas por cada um dos músicos. 

“No primeiro disco (‘Sociedade do Crivo Mútuo’, de 2008) é bem visível essa primeira proposta, a maioria das músicas são nossas”, diz TC. “Mas aí, com compositores e músicos com a qualidade da Jenninha (Souza), Henrique Matheus e o Pedro Hamdam, não faria sentido fazer uma coisa muito exclusiva”, atesta o baixista. 

O grupo, que começou como um veículo para acomodar a parceria dos dois e “fazer algo mais de boa, sem estressar”, como enfatiza Leo, lembrando o “emocionalmente traumático” período final dos músicos nos Estados Unidos, se consolidaria como uma das melhores bandas do Brasil na última década. 

CONFIANÇA

Mais do que isso, cimentou de vez tanto os novos propósitos criativos de cada um (com ambos produzindo uma gama enorme de artistas daqui e de fora, e fazendo trabalhos solos) quando solidificou suas parcerias assinadas à quatro mãos, o que revela uma dinâmica de composição que se amalgama com a relação afetiva que construíram. “É uma questão de confiança, o TC é uma pessoa que me conhece muito”, justifica Leo. “Ele faz letras para músicas minhas, algo que considero extremamente pessoal. Com ele, não corro nenhum risco”. 

]“Temos a alma artística muito despida um para o outro. Os assuntos dele me inspiram, são universos que vou querer cantar também. Ele vai falar de coisas que são tangíveis a mim, acho que é por isso que um recorre ao outro”. 

Ou seja, de alguma forma, existe um “universo de Leo e de TC” que dá em cervejas, apreciações musicais mútuas, frequentam músicos comuns. “Ele produziu bandas que depois eu vou produzir e vice versa”, como lembra Leo. “Estamos numa espécie de ‘grande banda de BH juntos’, já que nos encontramos em diversos projetos”, completa TC. 

Prova curiosa de que dividem até mesmo uma estética artística é um episódio recente. TC mandou para Leo uma foto de divulgação de seu novo disco, tirada em um banheiro vintage. Leo tinha uma foto parecidíssima, que pretendia dar a ela o mesmo uso. “Até achei que era minha foto”, diz o último, rindo.

ALÉM DISSO

O melhor de Leonardo Marques, por Thiago Corrêa
“Linha do Trem”: “Simboliza o primeiro disco dele, uma estética que ele criou, uma coisa diferente, original pra gente. Me deu muito orgulho e trouxe frutos muito bacanas pra ele”
“Só Se For Domingo”: “É uma música do Transmissor. Tinha essa coisa de eu ser o hit maker da banda, com canções que tinham uma resposta maior do público, sempre brincávamos com isso. E quando ele fez essa, ela teve um reconhecimento muito bacana da audiência. É um lado da composição dele que admiro muito”
“Um Dia Real de um Sonho Comum”: “Está no novo disco dele, uma letra que fiz pro Leo músico falando do Leo pessoa”

O melhor de Thiago Corrêa, por Leonardo Marques
“Primeiro de Agosto”: “Talvez a música mais emblemática do Transmissor, sempre nos acompanhou, uma letra que fala de vencer muita coisa pessoal”
“Dessa Vez”: “Incrível. Se vivêssemos em outro momento do mundo, ela seria um mega hit (risos)”
“A Ilha”: é uma música do disco solo. Ela está nas nossas vidas há tempos, de tocarmos ela em viagens, férias. Sempre fui fã dela e é ótimo escutá-la gravada”

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