(Flávio Tavares)
Na semana em que todo o Brasil incentiva a visitação nos museus – desde o último dia 12, está em curso a 12ª Semana de Museus – , Minas Gerais registra números animadores. Um levantamento realizado pela superintendência de Museus – braço da Secretaria de Estado da Cultura – mostra que, entre 2011 e 2013, o número de visitantes praticamente dobrou: de 41 mil pessoas, os espaços que pertencem ao Estado passaram a receber 71 mil por ano.
Segundo a superintendente de Museus, Márcia Renó, o espaço mantido pelo Governo de Minas que mais atrai o público é a Casa Guimarães Rosa, localizada em Cordisburgo, na Região Central do Estado.
“Somente por lá, circulam anualmente 29 mil pessoas. Isso, evidentemente, se deve ao próprio (escritor) João Guimarães Rosa (1908–1997), persona estimada por todos, mas é um feito que também deve ser atribuído às políticas de mediação e diálogo com o público”.
É necessário destacar, no entanto, que o Circuito Cultural Praça da Liberdade não consta nos números apresentados. Isso porque a maior parte de seus equipamentos tem, como gestores, instituições privadas. Segundo a assessoria de imprensa, só no mês de abril, 100 mil pessoas circularam nos museus.
O Consultor de Comunicação para Museus, Luis Marcelo Mendes, lembra que pesquisas em todo mundo mostram que três questões são comuns na hora de o público justificar o porquê de não ir a um museu. “Primeiramente, questões econômicas – mesmo que a entrada seja gratuita, por vezes a condução da família é cara. Segundo, a comodidade: é longe, não tem estacionamento, fecha cedo, não tem cafeteria...”.
E, finalmente, o interesse. “Mesmo que o cara esteja falando que a exposição do artista conceitual não fala a ele, quem lida com comunicação entende que, nisso, há um forte componente de falta de relação com a instituição. Falta a empatia de querer se relacionar com o público”.
Transformar a visita em hábito é um dos grandes desafios para os museus
Na última quarta-feira, em meio às comemorações da 12ª Semana Nacional de Museus, foi apresentada oficialmente, em BH, através de seminário, no Sesc Palladium, os resultados de uma pesquisa sobre públicos de cultura, realizada pelo Sesc e Fundação Perseu Abramo, e na qual foram entrevistadas 2.400 pessoas em 139 municípios brasileiros. Entre questões que tratam sobre vários suportes (música, televisão, filme, literatura e teatro), o público que disse não ter “o menor interesse” em visitar uma exposição é significativo.
Entre as questões levantadas na pesquisa, uma trata sobre quais os tipos de exposição que o indivíduo “mais gostaria de visitar”. A grande maioria – 26% – respondeu que não sabe ou que não tem nenhum interesse em conhecer uma mostra. Outros 26% afirmaram que nunca foram a qualquer exposição.
Criar o hábito
O antropólogo e doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Márcio Barros, afirma que os números são “alarmantes”, mas diz que gestores e pensadores de cultura precisam ir além do que foi apresentado. “Essa pesquisa é um problema para nós, gestores de cultura e instituições, não para a população brasileira. Ela mostra que não é só uma questão de oferta, mas a falta de demanda”.
Barros, que também é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC Minas, destaca que é preciso considerar outro ponto: “Muita gente que afirma ter ido a um museu, o fez apenas uma vez na vida”.
Ele destacou, ainda, que a maior parte das pessoas que vai a esses espaços é levada mais por políticas sociais do que efetivamente culturais. “Não é indo uma vez na vida em qualquer lugar que os hábitos são criados”, assegura Barros.
“Por isso, quando uma criança vai a um museu pela primeira vez, no dia seguinte costuma dizer à professora que o que mais gostou foi do lanche, de andar de ônibus com os coleguinhas e, claro, de não ter tido aula. Só vai passar a admirar o museu e as exposições quando isso se tornar um hábito”, conclui.