Mesmo que haja muitos críticos para a série de sucesso “50 Tons de Cinza”, não dá para negar a importância dos livros de E.L. James para o mercado literário. Depois da fama do personagem Christian Grey e de 40 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, a literatura erótica ganhou novo status e se tornou um dos maiores filões do mercado editorial em todo o mundo.
Aqui no Brasil, muitas editoras passaram a investir no segmento e autores independentes se transformaram rapidamente em best-sellers, especialmente na Amazon. Somente no site brasileiro dessa gigante dos e-books, há oferta de mais de 2.900 livros catalogados como eróticos.
A baiana Tatiana Amaral é um dos principais nomes entre as brasileiras que estão investindo na área. Autora da trilogia “Função CEO” e de “O Professor”, a escritora teve mais de 100 mil unidades vendidas, entre livros digitais e físicos. Na Amazon, ela tem uma média de duas milhões de páginas lidas por mês.
“Antes de me tornar escritora, ainda como leitora, sentia falta desse olhar (erotizado). Nem todos os livros tratavam da vida do casal como algo que tem sexo. Como se fosse algo a ser escondido”, conta Tatiana.
O primeiro livro erótico dela, a primeira parte da trilogia “Função CEO”, foi desenvolvido às escondidas, pois tinha medo do que o marido e amigos poderiam falar sobre o conteúdo – não é à toa que muitas escritoras usam pseudônimos. “Mas aí mostrei para algumas amigas e todas disseram que eu deveria publicar. E foi o que me projetou”, conta Tatiana.
Divulgação
INFLUÊNCIA – O sucesso da trilogia “50 Tons de Cinza” e do filme homônimo foi importante para o crescimento do interesse de leitores por livros com pegada mais erótica
Para ela, a literatura erótica viveu um boom porque as mulheres perceberam que não precisavam ter vergonha desse tipo de leitura. “No início, elas liam pela curiosidade, hoje como um grito de liberdade. Já existiam livros que falavam de sexo, mas depois de ‘50 Tons de Cinza’, as mulheres passaram a assumir que gostam de sexo nos livros. Teve gente dizendo que esse segmento iria desaparecer em um ano e hoje temos autoras que escrevem maravilhosamente bem”.
Estímulo
A pernambucana Mila Wander não só passou a investir no erótico como também une esse segmento a outros gêneros, como o policial. Autora de “O Safado do 105”, tem recebido um feedback bem positivo das leitoras.
“Tem gente que me procura para dizer que os livros eróticos salvaram o casamento, porque as leitoras percebem uma mudança tanto na vida pessoal quanto na íntima”.
Mineira faz sucesso e aposta em novos lançamentos
Nascida numa família de poetas e amantes da leitura, a mineira Juliana Mendes sempre teve o hábito de escrever. Quando tinha 27 anos, escreveu o primeiro livro erótico, “Porque Fechei os Olhos”, e o guardou na gaveta. Depois de ver tantas mulheres estreando na literatura com esse viés mais sensual, tomou coragem e colocou o livro em uma plataforma on-line, ganhando 30 mil leitores rapidamente.
Depois disso, ela passou a investir na carreira de escritora. Colocou o livro na Amazon e lançou uma versão física independente, que se esgotou rapidamente. Conheceu a também escritora de Belo Horizonte S. Miller e as duas começaram a trabalhar em parceria, lançando “Indomável Coração” – que chegou a ser lançado na Bienal de São Paulo.
Alexandre costa/Divulgação
JULIANA MENDES – A psicóloga diz que é preciso abdicar de compromissos da vida social para conseguir conciliar trabalho com a carreira de escritora
“O empoderamento feminino é muito grande, a mulher não tem mais que ler um livro e escondê-lo debaixo do travesseiro. A mulher hoje se mostra muito mais e está certa do que quer e gosta, sem vergonha”, afirma Juliana. Claro que os e-readers ajudam nesse processo, já que ninguém vê qual é a capa do livro que está sendo lido em um aparelho eletrônico.
Juliana já está cheia de novos projetos. “Porque Abri os Olhos”, a continuação de seu primeiro sucesso, está sendo publicado pela editora Astral Cultural. Na Amazon, saem em breve dois contos escritos ao lado de S. Miller.<EM>
História Saborosa
Editora da Essência, selo feminino da Planeta, Márcia Pereira afirma que a literatura erótica vive um ótimo momento no mercado. “Quando se observa a curva de vendas, percebe-se que há momentos de estabilidade e outros de pico. Não tem diminuição”, diz.
A editora recebe muitos originais do Brasil todo e faz um trabalho minucioso de seleção antes de apostar em um nome. “É preciso, claro, que o livro seja bem escrito. Não adianta ter uma boa história, mas não tê-la bem desenvolvida. A história tem que ser saborosa, manter o interesse até o fim”, explica.
Mas a proponente deve mostrar que vai além de uma boa escrita. “Entre as autoras nacionais, também existe a importância de se fazer um bom network nas redes sociais. Muitas escritoras não têm esse traquejo. E não basta ter uma conta no Facebook, é bom ter uma boa capilaridade nas redes sociais e estar presentes em diferentes plataformas, como Twitter e Instagram”.
O principal nome da Essência atualmente é a espanhola Megan Maxwell, que vendeu 2 milhões de livros no mundo – 200 mil só no Brasil – com romances bem calientes. O selo lança no ano que vem a versão de “Pasa La Noche Conmigo”, spin-off da série “Peça-me” que chega este mês às livrarias espanholas.