Livro apresenta o sertão que inspirou a música de Luiz Gonzaga através de fotos e textos

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
29/07/2014 às 07:35.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:33
 (Tiago Santana)

(Tiago Santana)

Luiz Gonzaga (1912– 1989) está para o sertão como a letra está para a palavra, e o silêncio para o som. E é da importância do “rei do baião” para o Nordeste – e para toda a cultura popular brasileira – que nasceu o desejo de Tiago Santana, fotógrafo nascido no Ceará, de capturar imagens sob céu sertanejo – o mesmo por onde passou aquele que foi um dos mais inventivos sanfoneiros do país.   “O Tiago é um sujeito que vive o que está fazendo. Ele tem uma sensibilidade rara que, a cada foto, mais se aguça e se fortalece”, diz Audálio Dantas, alagoano com quem Tiago divide os louros do livro a ser lançado nesta quarta-feira (30) em BH: “Céu de Luiz” (Editora Tempo d’Imagem, 156 páginas, R$ 90).   “Quanto a mim, coube fazer uma espécie de ‘ilustração’ para as imagens dele”, brinca o escritor, para completar em seguida: “Somos os dois do Nordeste e escrevemos juntos o ‘Chão de Graciliano’ (2006). É, portanto, uma boa e velha parceria”.   “Aliado a isso, gosto de penetrar profundamente na vida das pessoas de quem trato. É um trabalho duro, mas muito compensador. E esse o foi, em especial, porque essa gente retratada é a origem da criatividade nordestina. Luiz Gonzaga está no coração dessas pessoas e, ao mesmo tempo, foi desse povo, da nobreza sertaneja, que ele extraiu toda sua arte”.   Para Tiago, que desde menino escuta e vive as histórias do sertão, encontrar Audálio foi uma grande felicidade, “porque com Graciliano pude fazer uma leitura mais ampla desse universo. Agora, com Luiz, pude fazê-lo mais profundamente. Não haveria outra pessoa melhor para dividir o livro comigo”, assegura ele, em entrevista de Fortaleza, cidade onde mora com a família.   “É curioso, porque viver nessa região influenciou minha escolha da profissão. E a fotografia sempre me possibilitou conhecer e morar em outros lugares, mas nunca consegui me desligar do meu lugar”.     "O meu trabalho se alimenta do homem"   “Luiz Gonzaga usou o som do sertão para fazer sua música e, assim como ele, a riqueza da tradição desse lugar sempre me interessou. Como me interessa, ainda mais, retratar o homem por si só”, explica Tiago Santana.  O fotógrafo completa: “E é disso que a minha fotografia trata: do homem e do encontro dele com o outro, do universo que ele alcança, toca e cria. Eu não sou fotógrafo de paisagem nem de artes plásticas. O meu trabalho se alimenta do homem. Com a minha foto, tento apenas instigar o observador, o resto é mistério a ser cumprido, desvendado”. Olhar profundo   “Em ‘Céu de Luiz’ quero alcançar aqueles que têm olhar rasteiro sobre o sertão. Mostrar que há mais do que o chão rachado, o sol latente. Aqui há a riqueza de um povo que inspirou um dos artistas mais importantes da cultura popular brasileira”. Santana vem a BH a convite do projeto “Foto em Pauta” – que tem coordenação do professor de fotografia da PUC Minas, Eugênio Sávio.   Durante o evento, ele vai apresentar, por meio de projeção, fotografias que considera marcantes na sua carreira– como as que fizeram parte do ensaio autoral “O Chão de Graciliano” (pelo qual recebeu o prêmio Conrado Wessel de Fotografia em 2007) e “Benditos” (que lhe rendeu a bolsa Vitae de Artes, em 1994).   Em seguida, Tiago bate papo com o público presente.

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