Truman Capote se tornou conhecido mundialmente por ter escrito um dos romances-reportagem mais impressionantes da história da literatura, “A Sangue Frio”, e por ser autor de “Bonequinha de Luxo”, que daria origem ao clássico do cinema protagonizado por Audrey Hepburn. Mas até chegar ao nível de excelência que conhecemos, foram muitos anos de aperfeiçoamento no ofício de escritor.
A prova de que o talento do americano já se apresentava na juventude está em “Primeiros Contos de Truman Capote”, que a José Olympio acaba de colocar no mercado. São 14 textos produzidos durante a adolescência e descobertos, em 2013, nos arquivos da Biblioteca Pública de Nova York. Alguns deles foram publicados na revista da escola que Capote frequentava, mas outros permaneciam inéditos.
Obviamente, os contos não possuem a elegância e precisão dos trabalhos posteriores. Mas já são bastante reveladores de características presentes em seus trabalhos mais maduros: o interesse pelas pequenas cidades americanas, por personagens que fogem do convencional, por questões sociocomportamentais.
Sulista
Nascido em Nova Orleans e criado em uma cidade do Alabama, Capote leva muito de sua relação com a cultura sulista para os textos, especialmente em “Lucy”, conto em que trata de uma empregada negra que sai do Alabama para servir sua família em Nova York, porém, apesar do conforto, a mulher não se adapta à vida da metrópole.
Assassinos e criminosos já faziam parte do interesse do autor durante a juventude. O conto de suspense “Terror no Pântano” é um dos melhores, deixando claro como Capote já dominava ali a noção de ritmo e desenvolvimento de personagem – mesmo em textos tão curtos. Já havia ali um certo olhar cinematográfico, uma forma de narrar capaz de prender facilmente o leitor.
Claro que há também narrativas mais inocentes, menos relevantes, como a de uma mulher que salva uma criança picada por uma cobra (“A Loja do Moinho”) e a de uma garota acusada de roubo injustamente (“Hilda”). Mas não vão atrapalhar a leitura dos já fãs de Capote.
Vale reforçar que a edição conta ainda com textos de Hilton Als, crítico da revista New Yorker, e de David Ebershoff, responsável pela publicação do livro em inglês.