(WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO – 16.2.2015)
Quando a ditadura militar acabou, muitos torturadores se viram perdidos. Não havia mais o respaldo do Estado para que continuassem cometendo crimes. Pode parecer surpreendente, mas muitos deles encontraram respaldo no crime organizado – especialmente no poderoso universo do jogo do bicho que toma conta da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Esses são alguns personagens que mostram a relação que existiu entre militares e contraventores durante os 20 anos de repressão. O assunto é tratado no livro-reportagem “Os Porões da Contravenção – Jogo do Bicho e Ditadura Militar: A História da Aliança que Profissionalizou o Crime Organizado” (Record), dos jornalistas Chico Otavio e Aloy Jupiara. A obra será lançada nesta terça-feira (31), às 19h30, na sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, dentro do projeto “Sempre um Papo”.
livro traz um material levantado pela dupla para o jornal “O Globo” e apresentado em uma série de reportagens em 2013. Ali, foram mostrados o resultado de uma apuração que envolveu mais de 50 entrevistas e muitas visitas a arquivos públicos.
Paulo Malhães
O ponto de partida foi uma entrevista feita com o temido tenente-coronel Paulo Malhães, que depois do fim da ditadura, passou a viver de forma reclusa na Baixada Fluminense.
“Estabeleci uma relação de confiança com ele e, numa entrevista, ele me contou que, em 1985, foi esvaziado no Exército. Contou que quem o acolheu, quem lhe deu abrigo, foi a contravenção e ele passou a servir os bicheiros, formando uma milícia. Pensei: ‘se isso aconteceu com ele, pode ter acontecido com outros’. E ali começou a pesquisa”, diz Chico Otavio, vencedor de sete prêmios Esso de Jornalismo.
Por incrível que pareça, os jornalistas não sofreram coação após o lançamento do livro – que, em sete meses, chegou à quarta edição. Aparentemente, a resposta foi o lançamento do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 Anos do Sambódromo”, de Luiz Carlos Prestes Filho, que traz na capa fotos de alguns famosos presidentes de escolas de samba.