Acaba de chegar às livrarias uma obra que vai encher os olhos dos amantes da psicodelia: “Lindo Sonho Delirante – 100 Discos Psicodélicos do Brasil (1968-1975)”, escrito pelo jornalista Bento Araujo e lançado graças a uma campanha de financiamento coletivo.
Colecionador de discos e autor da publicação Poeira Zine, em que trata da música independente, Bento conhece muito bem cada um dos discos tratados no livro. Escolheu os cem mais marcantes do período mais psicodélico da música brasileira e passou dois anos pesquisando informações históricas sobre cada um deles.
Aqui estão muitos dos mais inventivos artistas da música brasileira: Caetano Veloso, Os Mutantes, Gilberto Gil, Egberto Gismonti, Erasmo Carlos, Gal Costa, Alceu Valença, entre outros. Ronnie Von, o artista que as gerações mais novas conhecem pela televisão, aparece na lista com três álbuns.
Minas Gerais marca presença, de alguma maneira, com os célebres discos “Clube da Esquina”, “Som Imaginário”, “Tema de Batman, Tema de Ônibus”, de Célio Balona, entre outros.divulgação / N/A
"Tropicália", o primeiro grande disco psicodélico do país
Antropofagia
Bento Araujo explica que, no Brasil, a influência da estética psicodélica não se deu apenas no rock, como aconteceu na Inglaterra e nos Estados Unidos. Artistas interessados em vivenciar um processo antropofágico, iriam misturar influências dos Beatles e outros grandes nomes do rock com elementos da cultura brasileira.
“Influenciou toda nossa MPB. Desde a Tropicália, que é o primeiro movimento psicodélico nacional, até a Bossa Nova. Nos anos 70, após o crescimento do rock progressivo, se vê uma influência em artistas de Pernambuco e no Clube da Esquina”, afirma.
Não somente as referências artísticas foram cruciais para a explosão de criatividade do período estudado, como também o contexto político. A ousadia estética nos projetos gráficos e nas músicas era uma maneira de confrontar o conservadorismo do período do regime militar.
“Esse trabalho também está relacionado à repressão. Existe ali uma vontade de romper barreiras políticas e sociais e as drogas são um combustível para a expansão da mente”, diz Araujo.
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Gal Costa é um grande nome da produção dos anos 70
Bilíngue
A onda psicodélica brasileira foi tão especial e única, que os discos citados na obra são consumidos de forma voraz no exterior, especialmente na Europa e no Japão. Visando esse público, Araujo desenvolveu “Lindo Sonho Delirante” de forma bilíngue – também em inglês. “A demanda é muito grande lá fora, possivelmente maior do que no Brasil”.
“Lindo Sonho Delirante”: 232 páginas, R$ 120 – disponível no site poeirazine.com.br/loja/lsd
ALÉM DISSO
Alceu Valença aparece em “Lindo Sonho Delirante” com o álbum “Alceu Valença & Geraldo Azevedo”, lançado pela dupla em 1972, dando um passo importante na psicodelia nordestina, influenciando muitos outros artistas das gerações seguintes.
Este é um momento em que Alceu tem revisitado a sua marcante produção dos anos 70. Ano passado, o artista viajou o país com um show dedicado ao disco “Vivo!” (1976) e a apresentação feita no Theatro Santa Isabel (Recife) foi gravada e transformada no DVD “Vivo! Revivo!”, que acaba de chegar às lojas via Deck. O registro conta com direção de Lula Queiroga e participação de Geraldo Azevedo. Também estão no repertório, de 15 canções, algumas dos álbuns “Molhado de Suor” (1974) e “Espelho Cristalino” (1977).
Além disso, o artista acaba de relançar, também via Deck, o raro disco “Saudade de Pernambuco” – que também será lançado em vinil pela Polysom. A história por trás desse disco é curiosa. As músicas foram construídas no final dos anos 70, quando Alceu decidiu vivenciar uma temporada em Paris. As canções de “Saudade de Pernambuco” foram apresentadas em alguns shows “clandestinos” pela França. Quando voltou ao Brasil, ele deixou de lado essa produção e não registrou um álbum.
Essas músicas foram salvas por um técnico de som que encontrou o material gravado na Europa em meio a um monte de acervos esquecidos. As canções, então, foram mixadas e “Saudade de Pernambuco” foi lançado em 1998 numa edição limitada do Jornal da Tarde, que ofereceu o disco como brinde em um encarte chamado “Sertanejo e Forró”.