Livro traz relatos de homem que foi terrorista

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
27/03/2016 às 17:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:40
 (Kenzo Tribouillard/AFP)

(Kenzo Tribouillard/AFP)

Quando Sandro Barbosa do Nascimento tomou de assalto o ônibus da linha 174, no Rio de Janeiro, em 2000, só o víamos como um bandido.

Após o documentário de José Padilha (“Ônibus 174”), lançado dois anos depois, pudemos ver a história de humilhação, dor e terror que aquele homem havia vivido antes do trágico dia. 

Uma história brasileira que mostra que, para promovermos transformações sociais, temos de compreender as histórias das pessoas que enquadramos como desajustados.

Por isso a importância do livro “Radical – Uma Jornada para Fora do Extremismo Islâmico”, do ex-terrorista Maajid Nawaz, que chega ao Brasil por meio da Leya. 

O autor foi recrutado na adolescência, nos anos 90, pelo grupo revolucionário islâmico Hizb al-Tahrir, e foi preso no Egito. Após cumprir a pena, se tornou um dos fundadores e presidente da Fundação Quilliam, a primeira do mundo criada para combater o extremismo, por meio da promoção da democracia e da liberdade religiosa. 

O fato de a cor da minha pele não ter sido um problema nos primeiros anos de escola diz tudo sobre a origem do racismo: é uma questão cultural, um problema da sociedade e da famíliaTrecho de “Radical”

Paki

O que nos interessa aqui é ver como Nawaz, um britânico que nasceu em uma boa família de origem paquistanesa, se deixou levar para um caminho violento. 

No livro, conta como, desde a infância, era chamado nas ruas de paki – palavra pejorativa para a comunidade paquistanesa – e vítima de intenso preconceito por parte dos colegas. Chegou a ouvir que a epidemia da Aids que tomava o mundo tinha como culpados todas as pessoas de pele escura.

Na adolescência, era perseguido constantemente por skinheads e chegou a ver um homem branco, que não conhecia, ser esfaqueado por jovens nazistas por tentar apartar o confronto. 

O ódio que tomou a mente de Nawaz é o mesmo que assombra milhares de jovens muçulmanos nascidos na Europa. Imagine crescer em um ambiente que o hostiliza por sua religião, cultura, tom de pele, sobrenome? 

“Radical” oferece uma leitura de facílima compreensão, mas é preciso ir além e abstrair a substância do relato. Nawaz não é muito diferente dos belgas que promoveram atentado em Bruxelas semana passada, nem dos jovens negros brasileiros que sofrem preconceito na escola, no trabalho, na rua e escolhem o vandalismo ou a violência como forma de expressar o ódio. 

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