(Carlos Rhienk/Hoje em Dia)
Eduardo Tornaghi é um poeta de família. Assinando poemas ao lado das duas filhas, Carolina e “Bibi”, dos irmãos, Pedro e “Beto”, e da mulher, sempre no apoio moral, o ex-galã (protagonizou várias novelas da Globo nos anos 70) tem divulgado pelo Brasil seu primeiro livro “Matéria de Rascunho: Ensaio do/e Poeta” (R$ 30, à venda nos endereços virtuais do escritor). Aos 62 anos, é pura dedicação à arte dos versos, mas sem esquecer seu ofício inicial: “Escrever é um prazer. Mas a minha arte mesmo é interpretar”, admite. E foi mesclando o que gosta ao que nasceu para fazer que chegou ao livro. E à organização de duradouros projetos culturais. Há cerca de uma década o “Pelada Poética no Leme” reúne poetas à beira-mar, mas, no lugar da bola, palavras, versos, inspiração – e nenhuma regra. É tudo gratuito. Bastando chegar na beira do “campo”, levantar a mão e entrar. “É farra. É brincadeira. É chamar para dançar”, ensina o ator, que se cansou da fama de galã de TV e largou tudo, nos anos 1980. Televisão, hoje, muito raramente. Teatro, às vezes. “Sou um biscateiro qualificado”, brinca. E calcula: “Faço de cinco a seis coisas diferentes em arte por mês”. Reforçando a verve interpretativa, Tornaghi mantém canal no YouTube, no qual posta vídeos com leituras de poemas seus e de ícones da poesia mundial. Tudo bem produzido, mas com um toque “alternativo” que aproxima os leitores daquilo que dá vida ao poema: o saber recitar. “A edição do livro é independente e alternativa também. É o meu jeito”, frisa. Desde que deixou a Globo, a fama e o salário que era consequência daquela combinação, vem realizando oficinas de interpretação e consciência corporal Brasil afora. Menino >de rua, presidiário, lixeiro, mãe solteira, paraplégico, cego, classe média, alta, periferia... “A oficina não tem nome. Uso essa ideia de que o instrumento do ator é a pessoa dele e que, para manipula-lo, é preciso conhecê-lo bem”, explica um dos fundamentos. O ator já estimulou “advogado a virar ator”, “artista a virar cientista”, “casamentos feitos e desfeitos”. O auto-conhecimento tem dessas coisas. Assim como, a coragem para colocar em xeque estímulos e comportamentos viciados. As filhas de 14 e 12 anos fazem participações encantadoras no YouTube. São delas também a batida do martelo para que o pai ex-galã mantenha a densa barba. “Elas acham que a barba me engorda um pouco. Sou um homem fino”, observa, sempre com bom humor. As filhas, acredita, vieram numa precisa hora, já na maturidade. Nesse meio tempo, Tornaghi recusou candidaturas, diretorias, casamentos... “Tudo porque achava que não estava pronto”. Alto preço Com seu biotipo italiano, entre 1975 e 1980, Tornaghi participou de novelas como “Dancin’ Days” e “A Moreninha”, entre outras. Seu último papel na TV foi em “O Todo Poderoso”, em 1980, na Band. Mas o reconhecimento teve “preço alto”. O artista pensa em fazer uma biografia, quem sabe em 2015. Antes, antologia de poetas da “Pelada” e mais um livro, já no forno. É o que importa. “Você tem uma casa de ouro, mas que vira uma gaiola. Ser visto como alguém especial e diferente te afasta das pessoas. Você entra numa classe de super-homens. E o super-homem quando erra, não fica como o errado. Fica como o exótico”, explica Tornaghi.