(Mirela Perschini/divulgação)
A programação cultural de agosto em Belo Horizonte estampa espetáculos que, se não empunham uma bandeira, ao menos abordam a tão em voga e polêmica estética queer, que confunde a cabeça – ou até mesmo opõe – quem, digamos, milita nesse universo.
Se está pouco familiarizado com o tema, vai a explicação: o movimento surgido a partir da teoria cunhada pela norte-americana Judith Butler contesta as normas dominantes sobre gênero. Para a filósofa, homem e mulher são conceitos mutáveis.
Para entender um pouco o assunto, três opções. A peça “Simplesmente Marta” está em cartaz no Espaço 171 (Horto). Se apropria de elementos do universo das drag queens a partir de um apresentador de TV decadente.
“Concerto Cancioneiro Queer” tem apresentações dias 25 e 26 na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. No roteiro do espetáculo pioneiro em terras mineiras, canções LGBT (tematizadas por personagens gays) e feministas.
Já o coletivo Todo Deseo ocupa a partir de quinta-feira a rua Conselheiro Rocha, também no bairro Horto, com a performance “Nossa Senhora (do Horto)”, desdobramento das pesquisas sobre questões de gênero no teatro, com referências aos filmes do cineasta Pedro Almodóvar.
Alguns poucos metros separam as sedes do Todo Deseo e do Espaço 171, ambos na Zona Leste da capital mineira. A abertura do teatro do Galpão (também no Horto) é o maior responsável por essa efervescência de espaços que se abrem a discussões sobre temas LGBT, de acordo com Henrique Limadre. “Já perdemos essa característica de ter lugares específicos para o público GLS, como era chamado, mas lá há um claro acolhimento dessa diversidade”, analisa.
Diretor de “Simplesmenta Marta”, Henrique se refere a espaços como o Zona Last e a Gruta. “Sim, existe uma cena cultural acontecendo ali, não só de aspectos culturais, englobando várias demandas”.
Rafael Lucas Bacelar, do elenco de “Nossa Senhora”, percebe que hoje há uma quantidade de projetos que fazem questão de introduzir tais temas.
Percepções distintas
Marcelo Kuna, idealizador do “Concerto Queer”, salienta que as referências podem ser as mesmas, mas a maneira como cada grupo as percebe é muito distinta. Prova disso estaria na forma como eles interpretam o que seria estética queer, comumente associada a obras que assinalam o desejo de ir contra a heteronormatividade.
“Não gosto da expressão LGBT, que mais parece sopa de letrinhas, em que um ou outro sente a falta de uma letra. Gosto de queer, apesar da discussão que cria entre pessoas mais velhas que viveram a homofobia. Queer era um xingamento, o que os deixa desconfortáveis. Para a nova geração, ganhou outra definição. Aqui virou quer, de vários quereres”, pondera Marcelo.
Rafael é reticente no uso do termo. Prefere dizer que o Todo Deseo tem alguns apontamentos que podem ser enquadrados na estética Queer.