(Carlos Henrique/Hoje em Dia)
“Turbante e colar/ vou me preparar/ a camisa e a saia ainda estão no varal/ e as contas no peito são pra abençoar”. O bloco Baianas Ozadas vai desfilar pelas ruas de Belo Horizonte na segunda-feira de Carnaval (dia 8 de fevereiro) com uma supernovidade: a apresentação da música “Vamos Baianas”, concebida pelo vocalista Heleno Augusto em parceria com o músico Gustavo Maguá.
“Como muitos blocos da cidade possuem hinos, havia uma expectativa de que o Baianas também tivesse o seu. E acabamos recebendo várias músicas de compositores de outros lugares, como Bahia e Rio de Janeiro”, conta Renata Chamilet, produtora do bloco que, este ano, desfilará pela quinta vez.
Com muitas músicas em mãos, a turma gestora do bloco – Renata na produção, Geo Cardoso e Heleno Augusto nos vocais, e Peu Cardoso na regência da bateria – viu que seria interessante não ter apenas um hino, e sim, vários. E reunir essas músicas em um disco totalmente autoral, que, aliás, já começou a ser registrado – mas sem pressa para o lançamento.
“Isso é resultado do momento em que paramos para pensar no bloco, na nossa proposta musical. No desafio de fazer música com olhar sobre um recorte da Bahia das décadas de 1980 e 90, tendo, ao mesmo tempo, um diálogo com referências recentes”, explica o baiano Geo Cardoso.
Agenda
O bloco se tornou trabalho em tempo integral para o quarteto. Além dos ensaios semanais – que, este mês, acontecem aos sábados no Largo da Saideira (ao lado do Minas Shopping) –, há ainda uma agenda intensa de shows. Já teve mês em que o projeto (banda + sete percussionistas) chegou a ter oito compromissos. Os mais recentes aconteceram no Réveillon, quando o Baianas Ozadas tocou na Praça da Estação e no PIC.
‘Livre para Amar’ é o tema do Carnaval deste ano
Peu Cardoso tem a difícil tarefa de comandar 450 instrumentistas (Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia/Arquivo)
Após um ano com muitos casos de intolerância, o Baianas Ozadas quer arrastar a multidão com a temática “Livre para Amar”. “Acabamos de viver um ano muito conservador, de gente querendo padronizar o amor”, diz Heleno. “Tem gente que aceita guerra, mas não aceita ver um branco amar uma negra, ou ver duas meninas se beijando”, completa Geo, justificando a escolha.
Todo ano, o projeto homenageia um artista baiano – Luiz Caldas, Dorival Caymmi e os blocos afro foram lembrados nos anos anteriores. Dessa vez, o foco vai estar sobre os 40 anos dos “Doces Bárbaros”: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Ou seja, ao longo do trajeto do bloco, composições eternizadas por essa turma de alto nível serão lembradas.
Confira recado do grupo:
Lúdico
Um dos segredos do sucesso do Baianas é não ter impedimentos ao público. A bateria está aberta a qualquer pessoa que queira tocar, mesmo que nunca tenha pegado em um instrumento musical. Basta estar disposto a participar dos ensaios semanais. Este ano, a bateria desfilará com 450 componentes. “O trabalho do ensaio é como uma musicalização lúdica”, diz Peu.
Outro ponto especial do bloco é o investimento na identidade visual. Instrumentistas e público são convidados a usar camisas brancas, patuás, turbantes e todo tipo de adereço que remeta à cultura popular e carnavalesca da Bahia. “Nós temos um conceito amarrado e ele é muito bom. Quem não gosta da Bahia?”, diz Renata, que agora encara a difícil tarefa de negociar com o poder público para que o trajeto entre Praça da Liberdade e Praça da Estação possa ser feito tranquilamente – no ano passado, foi complicado sair da concentração porque a avenida João Pinheiro não estava fechada.