Marcelo Camelo registra show ao vivo e faz documentário

Lucas Nobile - Hoje em Dia
04/06/2013 às 14:50.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:49

SÃO PAULO - Dois anos depois do lançamento de seu segundo disco solo, "Toque Dela", Marcelo Camelo se prepara para fechar mais um ciclo artístico de sua vida, como ele mesmo define. O encerramento dessa etapa se dá agora com a chegada às lojas de um DVD.

Batizado por ele de "Mormaço", o trabalho pode ser dividido em duas partes. Uma delas é o registro de um show, o "Ao Vivo no Teatro São Pedro", em que ele gravou no formato voz e violão (e acompanhado pelo rabequeiro Thomas Rohrer) 21 músicas. A outra é um breve documentário, chamado de "Dama da Noite", dirigido pelo cineasta americano Jack Coleman.

O contato com o diretor teve início em 2011, quando Camelo convidou a banda californiana The Growlers para dividir o palco com ele no Rock in Rio. "O Jack ficou uns 15 dias com a gente. Ele fazia vídeos do Growlers e uns vídeos de surf. Eu tenho afinidade estética e linguística com ele. O cinema tem uma poesia particular, uma gramática própria. Você tem que ver qual o texto que o cara escolhe e eu queria fazer um filme mais poético", comenta Camelo.

Neste sentido, "Dama da Noite" combina uma linguagem cinematográfica mais vintage --com grande parte das imagens feitas em 16mm-- com gravações de canções de Camelo feitas com novos arranjos. Algumas das músicas foram pinçadas do disco "Toque Dela", como "Tudo que Você Quiser", "Pra Te Acalmar" e "Vermelho", quase todas iniciadas por uma combinação de voz e guitarra.

Para casar com as imagens foram escolhidos outros temas do compositor, como "Tá Bom" (da época do Los Hermanos), "Teus Olhos" (com o áudio original da canção enviada por Camelo para Ivete Sangalo) e "Luzes da Cidade" (feita pelo músico no início de sua turnê de voz e violão).

Despretensioso e despojado, o documentário mostra Camelo bem à vontade em seu cotidiano. Há imagens de sua mulher, Mallu Magalhães, dos amigos do Hurtmold -banda que o acompanha- e da família do compositor.

"Queria uma linguagem menos direta, com os detalhes, as piscadelas, as idiossincrasias, que fosse mais um retrato de mim, das minhas intenções", explica o músico. Já o título do filme ele diz ter sido inspirado na planta dama da noite, que lhe remete à infância. "A flor tem um cheiro muito característico, tem um fulgor tão próprio, inebriante, lembra muito da minha juventude em Jacarepaguá", diz Camelo.

Porta de cinema

Se "Dama da Noite" pretendeu-se poético, o "Ao Vivo no Teatro São Pedro", por se tratar do registro de um show obviamente resultou em algo mais factual, mas não ficou muito atrás em termos de uma estética menos convencional.

As filmagens mostram Camelo no palco, sentado num banquinho e empunhando seu violão, mas não são apenas imagens esteticamente tradicionais, com closes desfocados nas cordas e nas mãos do compositor.

No repertório, músicas dos dois discos solo de Camelo, "Sou" e "Toque Dela", algumas da trajetória com o Los Hermanos (como "Casa Pré-Fabricada", "Samba a Dois", "Dois Barcos", "Fez-se Mar"), entre outras.

Um dos destaques do setlist é o samba "Porta de Cinema", composição do avô de Camelo, Luiz Souza. O músico já havia gravado a canção no álbum "Amendoeira" (2006), de seu tio-avô Bebeto Castilho, do Tamba Trio. "O tio Luiz era daqueles personagens do Nelson Rodrigues: tricolor, morador da Tijuca, funcionário da Caixa, sambista de botequim, batuqueiro, músico não profissional", comenta Camelo, que diz ter guardado um caderno com composições do avô, que poderiam ser gravadas um dia.

Período em Portugal

O encerramento do ciclo de "Toque Dela" acontece para Marcelo Camelo com uma ida por tempo indeterminado para Portugal ao lado de Mallu Magalhães. Por lá, o compositor deve começar a pinçar as primeiras referências e inspirações cotidianas para criar seu próximo trabalho. "Eu tenho uma relação com o país muito antiga, minha família é de lá, tem uma sensação de pertencimento, sabe? Tenho muita vontade de morar lá", diz Camelo.

"A vida funciona meio por ciclos, é como se um disco fosse uma era de vida. A feitura é um processo de análise, uma sessão de terapia, você sublima questões pela música. Quando termino uma turnê, não gosto de ficar no mesmo lugar, sob o mesmo julgo. Gosto de mudar de perspectiva, de olhar. É uma virada de página profunda", completa o músico.

A curto prazo, o próximo trabalho que deve chegar às lojas com a mão dele é o disco do compositor Wado, que contou com produção e participação de Camelo.

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