Menina do caso Polanski conta, em livro, sua versão da história

Patrícia Cassese- Do Hoje em Dia
08/12/2013 às 16:26.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:39
 (Editora Leya/Divulgação)

(Editora Leya/Divulgação)

Na orelha do livro “A Menina”, a jovem senhora exala serenidade no retrato em sépia. Sob ela, apenas os dizeres: “Samantha Geimer é casada e tem três filhos. Divide seu tempo entre o Havaí e Nevada”. Mas é no crédito da foto que ilustra a capa da obra, lançada agora no Brasil pela Editora Leya (320 páginas, R$ 39,90), que está a chave: Roman Polanski.

Sim, o nome por trás de obras como “Dança dos Vampiros”, “Chinatown” e “O Pianista”. A foto data de 1977, e flagra a mesma Samantha, só que aos 13 anos de idade. Nem é preciso elocubrar muito para concluir: trata-se da menina estuprada pelo diretor franco-polaco, hoje com 80 anos; na casa de Jack Nicholson, em Los Angeles, Califórnia.

Samantha Geimer já havia ido a público falar sobre o caso, que se tornou emblemático em todo o mundo. Mas é com o livro que ela finalmente dá a sua versão completa sobre os fatos que colocaram para sempre sua “vida à sombra de Roman Polanski”, palavras que formam o subtítulo da obra.

A iniciativa da hoje pacata mãe de família (tem três filhos) é meio que uma resposta à celeuma que voltou a eclodir em 2009, quando Polanski foi levado em custódia ao tentar entrar na Suíça. Desde 1978, ele vivia na França, para onde fugiu a fim de evitar a prisão nos EUA, país no qual tem um mandado de prisão expedido contra ele, por ter se declarado culpado de “relação sexual ilegal” com uma menor idade.

No encontro com Polanski, já célebre não só no écran quanto pela vida permeada por percalços – a perda da mãe judia em campos de extermínio e da mulher, Sharon Tate, grávida, Samantha foi fotografada nua, tomou drogas – e foi sodomizada.

"Eu não o perdoei por ele, fiz isso por mim mesma", diz ela, na obra

Uma boa surpresa: “Menina” é extremamente bem escrito e envolve o leitor desde o início. Não, não se trata propriamente de uma autobiografia. Apesar de o nome de Samantha figurar sozinho na capa, logo nas páginas iniciais o crédito é dividido com Lawrence Silver (advogado que a acompanha desde que a família da então adolescente, revoltada com a confissão da garota do que de fato ocorrera no que seria apenas uma sessão de fotos, decidiu ir à polícia) e Judith Newman, apresentada nos agradecimentos como a pessoa “que trabalhou duro para colocar em palavras os pensamentos e sentimentos que estiveram espalhados por anos”.

Autorias à parte, o livro certamente foi uma experiência de catarse para a autora, que, embora refute veementemente o rótulo de “Samantha, a vítima fraca” tanto quanto o de “Samantha, a vadia”, não se furta a, elegantemente, destilar críticas, como a direcionada a Oprah Winfrey (a apresentadora, que foi vítima de abuso infantil, questiona se foi um “estupro-estupro”), Mia Farrow (que defendeu Polanski nos anos 70, e depois encontrou fotos eróticas de sua filha tiradas pelo então marido, Woody Allen) ou mesmo a França (“Vive La France”, brada ela), por tópicos que embasaram a reação desfavorável à prisão de Polanski manifestada numa petição assinada por nomes como Pedro Almodóvar, Martin Scorsese e o já citado Woody Allen.

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