Mercado de livros busca alternativas ao modelo tradicional de vendas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
13/10/2018 às 21:13.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:57
 (Adamo Alighieri/divulgação)

(Adamo Alighieri/divulgação)

 O mercado editorial brasileiro encolheu 21% nos últimos 12 anos. Nesse cenário, a criatividade se torna fundamental na hora de buscar estratégias para facilitar a chegada de um livro novo às mãos do consumidor. Feiras literárias e outlets viraram uma alternativa interessante para autores, editoras e, claro, leitores. Na última semana, foi inaugurada na Savassi a Outlet de Livro, que une a praticidade da internet com a sensação de entrar numa loja e poder escolher o livro de preferência. A iniciativa se junta a outra tendência que se fortalece na capital mineira: feiras como Primavera Literária, Textura, Faísca e a Feira Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH). “Não há dúvida de que há uma efervescência de feiras no Brasil dentro desta cena alternativa, entendida como tudo aquilo que está fora do tradicional. É uma resposta à dificuldade de circulação e a um circuito muito caro”, registra a poetisa e professora Ana Elisa Ribeiro, que no próximo mês lançará “Livro”, coletânea de artigos sobre produção editorial. Guarda-chuvaEste movimento é realizado, principalmente, pelas pequenas e médias editoras, mas também tem sido uma opção utilizada pelas grandes, como observa a jornalista Flávia Denise de Magalhães, autora de dissertação de mestrado sobre feiras de publicações independentes no Cefet-MG. “As editoras estão tentando todas as oportunidades que surgem, da venda à ida em escolas”. De acordo com Flávia, as primeiras feiras em Belo Horizonte surgiram em 2010, voltadas para o cenário independente, que começava a sobressair à época. “Independente acabou virando um termo guarda-chuva, entrando muita coisa sob ele, como editoras de pequeno porte, distribuidoras pequenas e autores que vendem os próprios livros de bar em bar”, analisa. 

A venda de livros no varejo cresceu, em 2017, 6,15% e, em 2018, já acumula um crescimento de 9,33%, segundo dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros

 As feiras são uma decorrência, ressalta Ana Elisa, da digitalização de boa parte do processo de feitura de um livro. “Isso possibilitou às pequenas editoras fazer um produto mais profissional, deixando de ser uma publicação marginal ou precária. Antes, publicar um livro era uma coisa custosa, que exigia conhecimento específico”, compara a poetisa. ArtesanaisO que não quer dizer que elas deixaram de lado o artesanato. Há um movimento em torno de projetos literários propositadamente rústicos, com o uso de papelão para as capas. “São trabalhos que você não verá em qualquer livraria, feitos de maneira exclusiva e com baixa tiragem”, salienta Wallison Gontijo, organizador da Feira Textura, que já teve sete edições. Como boa parte das editoras independentes é formada por poucos funcionários (geralmente só o editor), elas se organizaram em associações – a Libre, Liga Brasileira de Editora – e feiras para poder correr por fora do circuito mais tradicional. “A cadeia do livro é cara. Para pôr na livraria, às vezes se paga 50% do valor de capa, de forma consignada”, afirma Ana Elisa. AGÊNCIA BIRDHOUSE/DIVULGAÇÃO / N/A Produtos artesanais e de baixa tiragem, de pequenas editoras, são destaque em feiras Ambiente descontraído no contato entre editora e público A Textura não é apenas um ponto de venda de livros. Reunindo de dez a 15 editoras pequenas e médias de Minas Gerais a cada trimestre, numa galeria de arte localizada no bairro Prado, na região Oeste, a Feira também busca formar leitores a partir da maior proximidade entre público, autores e editoras. “Ela tem um ar das feiras de Buenos Aires, em que a pessoa vai com a família, toma um chope artesanal e experimenta pratos específicos voltados para o tema da literatura. A ideia é fazer com que se sentem, peguem um livro e troquem ideias”, afirma o organizador Wallison Gontijo. Nesse ambiente descontraído, onde também são realizadas oficinas e lançamentos de títulos, as editoras costumam ter boas vendas. Criada em 2017 pela editora Impressões de Minas, mais de 50 empresas já levaram seus livros para a Feira, para um público médio de 500 pessoas/dia. 

Organizada pela Libre, a Primavera Literária de Belo Horizonte acontecerá de 8 a 11 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade

 Na última edição, realizada em setembro, ocorreu a oficina “Colabora-tório Gráfico: escrever (com) superfícies”, em que os participantes puderam usar diferentes materiais e superfícies, como carimbos, borrachas e rolo de papel, no intuito de experimentar texturas, padrões e composições visuais.  Como editor, Gontijo não abre mão de parcerias com as livrarias. “A gente não quer, com a Textura, substituir ou concorrer com livrarias. As pequenas, como a gente, também enfrentam dificuldades, na mesma batalha do mercado independente que nós. A livraria vem somar”, observa. A pesquisadora Flávia Denise de Magalhães ressalta que a cena independente não se resume a livros, abraçando outros tipos de publicações e que não têm, por exemplo, código de barras. “Muitas delas não são livros, como fanzines, pôsteres, cartão postal e ímã com adesivo”.  OUTLET DE LIVRO/DIVULGAÇÃO / N/A

Loja tem três faixas básicas: R$ 9,90, R$ 14,90 e R$ 19,90   Outlet de Livro mistura loja física com canal eletrônico A Outlet de Livro, aberta na última quarta-feira, na Rua Fernandes Tourinho, onde funcionava a livraria Mineiriana, na região da Savassi, representa uma reinvenção para as lojas físicas, após as dificuldades enfrentadas por algumas megastores, em situação pré-falimentar devido aos altos custos e margens baixas. “Juntamos a fome com a vontade de comer. Saem oito mil títulos por ano, para poucos canais de distribuição. A nossa loja funciona como as outlets de roupas, com as editoras podendo desovar estoque. E, no nosso caso, sem abolir o canal eletrônico”, destaca José Henrique Guimarães, CEO do grupo Acaiaca que está à frente da Outlet. Mineiro, mas hoje residindo em São Paulo, onde funciona o escritório do grupo, Guimarães assinala que a experiência de ir a uma loja física não é melhor ou pior do que adquirir um livro pela internet. “É apenas diferente. No e-commerce, que hoje representa 40% da venda no varejo, você já sabe o que quer comprar”. Não é saldãoNeste novo modelo, ele recupera um pensamento de livraria independente, em que a loja tem liberdade para fazer promoções e ações para público específico. “Nossa loja é enxuta do ponto de vista da concepção, com livros em ponta de estoque, em sua maioria, ofertados a preços baixos. Mas não somos um saldão. Os produtos são selecionados”, afirma. A internet entra neste negócio de várias maneiras, como ferramenta de relacionamento com o cliente e apresentando as mesmas facilidades do e-commerce, possibilitando ao comprador fazer o pedido pelo site e buscar o exemplar na loja. Na internet, a Outlet de Livro já existe há um ano e meio, com mais de 200 mil títulos disponibilizados.

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