(Fred Siewerdt & Will Etchebeher/Divulgação)
Indagado sobre o que esperar após a pandemia, Milton Nascimento acredita que ainda é muito cedo para desejar qualquer coisa nesse momento. “Vivemos uma crise seriíssima e o panorama é terrível em todos os sentidos”, observa Bituca ao Hoje em Dia. O foco dele agora é conseguir ajudar o máximo de pessoas possível por meio da campanha “Existe Amor”, projeto criado com Criolo que busca angariar recursos para a população em situação de vulnerabilidade social. “Era nossa obrigação tentar ajudar de alguma forma”, sublinha Milton. A parceria com Criolo não se resume aos pedidos de doações. “Existe Amor” também é o nome de um EP com quatro faixas, já disponível nas plataformas digitais. Entre as músicas está uma nova leitura de “Cais”, clássico de Bituca presente no disco “Clube da Esquina” (1972). A canção também serviu para juntar a dupla no palco, num programa de TV apresentado no ano passado. “Essa pandemia chegou de uma forma que ninguém jamais imaginou. Tanto que a gente gravou duas faixas num estúdio em São Paulo a poucos dias do início da quarentena. Então, no tempo que a gente ficou gravando, já sentíamos a gravidade do problema”, lembra Milton.
Criolo celebra esta nova dobradinha, ressaltando que ela nasceu de uma grande amizade, “que foi sendo construída de um jeito bonito, calmo e muito no nosso tempo”. Ele recorda do dia que conheceu Bituca, por meio de Ney Matogrosso, durante ensaio para o Prêmio da Música Brasileira, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. “O Ney me viu ali deslocado, já que estava bem novo na cena, e me pediu para ir ao camarim que ele dividia com o Milton. Não sabia o que fazer, com Ney de um lado e Milton do outro. O Toninho Horta entrou para pegar um sanduíche, que caiu em mim. Ele pediu mil desculpas, tocou algo genial no piano ao lado e saiu. Milton deu uma risada e disse: ‘Estes são meus amigos’”, relata. Após essa “quebrada de gelo”, eles começaram a conversar e não pararam mais. “Criolo é um dos amigos mais próximos que tenho na vida. E a gente já tem um contato desde quando o conheci através de seu primeiro disco, ‘Nó na Orelha’, que me deixou bastante impressionado. Mas a primeira coisa dele que eu vi foi o vídeo em que ele interpreta uma versão de ‘Cálice’. Um negócio incrível aquilo”, completa um dos criadores do movimento Clube da Esquina. Bituca ficou muito feliz com a versão de “Cais”, arranjada pelo pianista recifense Amaro Freitas. “É com certeza um dos grandes nomes do piano atualmente. Quando ele tocou lá no estúdio todo mundo ficou bastante mexido mesmo, sabe? É um talento raro, e de uma humildade impressionante. A leitura que ele deu pra música foi uma coisa que me emocionou muito. A gente estava até conversando na época, e chegamos num lance de que esse encontro, Criolo, Amaro e eu, é algo ancestral”, vibra Milton. Assista ao vídeo de "Cais":