Moleque Tião: 20 anos sem Grande Otelo

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
26/11/2013 às 11:33.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:23
 (Hoje em Dia/Arquivo)

(Hoje em Dia/Arquivo)

No dia 26 de novembro de 1993, Sebastião de Souza Prata embarcou no voo 720 da Varig, tomou dois copos de vinho durante a viagem e cantou um tango para passageiros uruguaios. No aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, andou alguns metros até desmaiar, enfartado.

Terminava, naquele saguão, a trajetória de um dos maiores atores do país: Grande Otelo. Nascido em 1917, na então São Pedro de Uberabinha (hoje Uberlândia), Otelo enfrentou uma infância difícil – o pai morreu esfaqueado e a mãe era alcoólatra – antes de se consagrar na chanchada ao lado de Oscarito.

Uma história que os cinco filhos tentam perpetuar através da criação de uma fundação que levará o nome do ator. As negociações estão sendo feitas em duas frentes, no Rio de Janeiro, onde Otelo morou a maior parte de sua vida, e também em Minas Gerais.

Luta pela classe

Ao Hoje em Dia, o ator José Prata, o “Pratinha”, um dos herdeiros de Otelo, disse não descartar parcerias com França e Portugal, países nos quais a obra do mineiro era reverenciada – Otelo seria homenageado no Festival de Nantes quando faleceu em solo parisiense.

“A única coisa que queremos é a cessão de um terreno. Obra e manutenção do espaço correriam por nossa conta”, adianta Pratinha, que transferiria para a fundação todo material de seu pai, hoje depositado na Fundação Nacional de Artes (Funarte), no Rio de Janeiro.

A ideia é encampar a defesa de Otelo pelos direitos da classe artística, criando uma faculdade de artes dramáticas. “Meu pai foi um dos que lutaram para que os atores tivessem um sindicato e não precisassem carregar uma carteira da Polícia Federal, dada também a prostitutas”.

Pratinha destaca que o Otelo sofreu preconceito por ser pobre e negro, mas que seu talento superou todas as adversidades – um bom número delas registrado na biografia assinada por Sérgio Cabral, lançada em 2007.

Adversidades

“Ele as enfrentou com muita bravura. Na arte, era insuperável. Seu trabalho na chanchada foi vital e nunca será esquecido”, analisa Cabral, que faz apenas um porém à personalidade do biografado: “Só não era disciplinado, sempre faltando ou chegando atrasado nos compromissos”.

A produtora Andréa Alves, responsável por um amplo projeto de preservação em torno da memória do ator, como musical, livro e site, ainda pretende levar a cabo um documentário dirigido por Evaldo Mocarzel. “Foi a única coisa que não fechamos. Quem sabe, no ano do centenário (de nascimento)”, torce.

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