Mostra de Lorenzato busca revogar 'selo' de naif

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
21/11/2017 às 17:19.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:48
 (fotos daniel mansur/coleção paulo nonato alves)

(fotos daniel mansur/coleção paulo nonato alves)

Um dos mais importantes artistas plásticos de Minas Gerais, o pintor e escultor ítalo-brasileiro Amadeo Lorenzato também está entre os mais marginalizados e estigmatizados. Essa contradição está expressa na exposição “Lorenzato: Simples Singular”, que será aberta amanhã, na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube

Com cerca de 300 obras, é a maior mostra dedicada ao artista que aprimorou a sua técnica enquanto Belo Horizonte se desenvolvia – ambos, morador e cidade nasceram praticamente juntos. “A história dele se mistura a de BH. Ele viu a cidade se transformar e forjou a sua obra neste cenário”, destaca o curador Marconi Drummond.

A forte relação com a capital mineira, evidenciada em pinturas que registram pessoas e lugares (especialmente do bairro onde morou, o Cabana do Pai Tomás, na região oeste), não impediu que Lorenzato caísse no esquecimento, muito em razão do vínculo criado com uma arte definida como popular e naif.

“A exposição também tem a função de revogar esse selo, que não é pejorativo. Mas permite percorrer toda a obra, sendo possível perceber que a ela transcende esse ponto de vista, mostrando-se muito sofisticada”, sublinha Drummond, que passou os últimos dois anos debruçado sobre a vida e obra de Lorenzato.

O curador lembra que o artista mineiro morou 28 anos na Europa, onde tomou contato com as vanguardas, tendo vivenciado o pós-guerra. “A arte dele reflete essa experiência de vida, que lhe um arcabouço muito forte. Por isso, é importante repensar o lugar da obra de Lorenzato no Brasil”.

A partir de uma ampla pesquisa, feita ao lado de Fabiola Moulin, também curadora da exposição no Minas Tênis, Drummond chegou ao levantamento de 900 obras, espalhadas entre 60 colecionadores. Apesar dessa quantidade, poucas foram as que ganharam espaço em museus de maior porte.

A mostra no Minas, além de expressiva, também marca a volta de Lorenzato à sua “casa”. Foi no clube que o artista realizou as suas primeiras exposições individuais, em 1964 e 1967, no salão da sede social do Minas I, na rua da Bahia, além de ter participado de duas mostras coletivas, em 1965.

Lorenzato nasceu em Belo Horizonte, em 1900, três anos após a sua fundação. “Seu trabalho nos permite observar 95 anos do século XX (Lorenzato faleceu em 1995) e da história de uma cidade. Ele saiu de BH por quase 30 anos, mas foi aqui que solidificou sua pesquisa e elaborou seu processo artístico”, registra.

“Lorenzato: Simples Singular” – A partir de amanhã, na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2244 – Lourdes). Terças a sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Até 18 de fevereiro. Entrada franca.

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