Mostra de Tiradentes exibiu filme inacabado protagonizado pela homenageada Helena Ignez

TIRADENTES – Completando 20 anos de história, a Mostra de Cinema de Tiradentes vive ainda uma sensação de “primeira vez”, com a realização de mudanças em sua grade de programação. Além de iniciar, com o documentário “Pitanga”, os debates com o público na praça, uma nova experiência foi a exibição de um filme inacabado, “Antes do Fim”, de Cristiano Burlan.

Com Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez – homenageada da Mostra – no elenco, o longa é uma discussão sobre a morte e o direito ao autoextermínio, condicionando a extensão da vida aos interesses da indústria médica, que, segundo o personagem de Bernardet, estaria mais preocupada com a bio de cada um, no que ela pode ser lucrativa, do que na cura.

Diálogos improvisados
A ideia do roteiro partiu justamente de Bernardet, um dos principais teóricos de cinema do mundo que, aos 80 anos, descobriu uma nova vertente: a atuação. No argumento original, o casal deveria fazer essa jornada em busca do “suicídio completo e lúcido”, mas Helena bateu o pé e virou um contraponto na história, defendendo a vida em diálogos improvisados.

“Eu tive que arcar com tudo sozinho”, brincou Bernardet, que confidenciou estar “traumatizado” após se ver num filme inacabado. Também em tom de brincadeira, Burlan definiu Helena como uma atriz rebelde, revelando que tinha uma imagem dela que foi “construída por homens”, referindo-se à fase de musa do cinema nacional, nas décadas de 1960 e 70. E pediu desculpas pela falta de tato.

Helena explicou sua posição ao relembrar uma fala do personagem de Bernardet no filme, que diz preferir sair de cena no auge. “O problema é que nunca sabemos quando chegamos ao auge”. Aproveitou para corrigir Burlan, afirmando que personagens como Sônia Silk, de “Copacabana, Mon Amour”, exibido na Mostra, têm muito do imaginário feminino também. 

*O repórter viajou a convite da organização da Mostra de Cinema de Tiradentes