(Xande Pires/Divulgação)
Quais desejos levam uma pessoa a decidir publicar um livro? A pergunta inquietante pode ter respostas das mais diversas, que vão desde compartilhar experiências a alavancar negócios. Muitas vezes, os motivos se moldam de acordo com urgências da época, como a necessidade de gravar uma memória vivenciada.
No caso da designer mineira Rita Davis Cavalcanti, de 24 anos, tudo partiu de um trabalho de final de curso. Junto à avó, Marília Pires, 72, ela lançou, no fim do ano passado, o livro “Gratifica-se Quem Me Encontrar”, pela editora Impressões de Minas.
A obra reúne cerca de 20 minicontos escritos por Marília e ilustrados por Rita, que também assina o projeto gráfico. “A história começou há dois anos, com o meu TCC , no fim do curso de design da UFMG. Queria fazer alguma coisa de publicações. Também queria abordar como tema a ditadura militar. E minha avó foi presa política, em 1968, durante 10 meses. Então, a chamei para começar o projeto comigo”, conta a jovem.
Quando convidou a avó para participar, porém, o projeto ganhou novos contornos. “Era para ser um livro sobre a perspectiva das mulheres com relação à ditadura. Mas minha avó escreveu a vida inteira e sempre engavetou tudo. Aí eu pedi e ela começou a liberar os textos, escritos nas décadas de 1950, 1960 e 1970”, relata.
Ao se dar conta dos escritos, ela mudou o foco, que passou a ser os textos da avó. “Com o tempo, ela foi mostrando mais textos, de pouco em pouco. Juntas, fomos selecionando os que mais gostávamos e depois criei ilustrações para cada um. Então, o livro virou um diálogo de mulheres entre gerações”.Flávio Charchar/Divulgação
Para Leonardo Beltrão, a escrita é uma necessidade pessoal e a publicação, uma consequência
Realização
Com o sucesso da apresentação na banca, Rita e Marília decidiram publicar e passaram a buscar editoras. “Mandei e-mail para várias e acabei descobrindo a Impressões de Minas, que é bem legal, tem uma pegada mais artística, literária. Aí fizemos alguns ajustes gráficos e publicamos”, relembra a designer.
Rita Davis ressalta que foram impressas 300 cópias, das quais 120 foram vendidas no lançamento. “No começo, fiquei muito ansiosa, porque pensava que era uma coisa particular, que as pessoas não tinham interesse. Mas aí vimos o quanto outras mulheres, da minha geração e da minha avó, se identificavam com os contos”, coloca.
Ela destaca que a avó ficou realizadíssima. “É o primeiro livro dela e meu também. Com isso, ela voltou a escrever e já pensa em publicar de novo. E pensar que, por um triz, isso tudo podia ter ficado guardado”.
Escrita em si
Produtor cultural e escritor, Leonardo Beltrão sabe que as motivações para publicar um livro podem variar – bem como as linguagens, assuntos e formatos. O mineiro já lançou dois, totalmente distintos: “A Festa do Adeus” (Relicário Edições), em 2014, que relata uma viagem de um ano percorrendo países e cidades da África e da Europa; e “Poemas de Muro e Amor”, de 2017, livro-objeto independente que reúne trabalhos do projeto #umlambepordia, criados entre 2014 e o lançamento.
“O primeiro foi mais bem preparado, uma seleção de contos que vinha produzindo há algum tempo. Quando voltei da viagem, mostrei os textos para alguns amigos da literatura que me encorajaram a seguir em frente. Já o segundo veio mais naturalmente. Criei o projeto de lambes intuitivamente e, com a enorme produção, a sequência natural foi a publicação”, explica.
Para Beltrão, a principal motivação sempre foi a própria escrita. “Acho que a publicação é um segundo passo, não menos prazeroso, mas sempre entendi a escrita como o processo em si”, afirma. “É difícil falar sobre as motivações das pessoas, pois são diversas. Eu escrevo porque preciso e, enquanto assim for, espero seguir nessa caminhada”.
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