(Luciana Diniz/Divulgação)
Lais era publicitária e se tornou dona do próprio negócio. Péricles era dentista e hoje é professor universitário. Lício deixou as ciências gerenciais para se tornar jornalista e atualmente segue caminho na música. Flávia saiu da área do turismo para se tornar fotógrafa. Thiago abandonou a engenharia para ser músico. Essas histórias são mais comuns do que a maioria das pessoas imagina. Nenhum deles estava insatisfeito financeiramente, mas todos decidiram mudar o rumo da carreira profissional para seguir um sonho.
Após um período sabático entre uma agência e outra, Lais Pimentel, de 32 anos, resolveu abandonar o universo “glamouroso” da Publicidade para abrir o próprio negócio. Há seis meses ela inaugurou em Contagem, região onde sempre viveu, o empório Casa Pimentel, que comercializa comidas e diversos produtos caseiros feitos com ingredientes orgânicos.
Mesmo ganhando hoje seis vezes menos que antes, ela afirma estar mais realizada. “Eu não conseguia dar tanta atenção para minha família e vivia estressada. Hoje eu ganho em qualidade de vida e me aproximei dos meus valores”, justifica ela, que perdeu o pai há três anos – o fato só aumentou a vontade de deixar o antigo emprego para ficar perto de casa. “Agora vejo mais minha família e vou para o trabalho a pé. Esse é meu ideal de vida”, comenta.
Planejamento
Antes de se aventurar na nova vida, Lais fez um estudo de mercado para saber em qual tipo de negócio investir. “Trabalhei nesse projeto um ano e meio. É preciso ter algo desenhado antes de se jogar de vez”, argumenta.
Outro exemplo de planejamento é o caso do professor universitário Péricles Lima, de 52 anos. Ele exerceu a Odontologia durante 16 anos, mas em um certo ponto da carreira a vontade de ampliar o olhar de mundo falou mais alto. Foi então que reuniu as economias e voltou para o banco da faculdade. Graduou-se em Relações Internacionais e fez mestrado e doutorado em História, tudo fora do país. Há cinco anos voltou para BH e leciona em uma universidade particular.
“Fui motivado pela vontade de conhecer outra área. Após os anos 80 e com a globalização, as pessoas viram que possuem inúmeras possibilidades. Não precisam ficar em uma profissão o resto da vida”, garante ele, que era feliz como dentista e continua feliz como professor.Lucas Prates / N/A
Péricles Lima: “O mundo hoje te possibilita mudar constantemente”
Mudar por quê?
Em curto prazo, a transição pode gerar perda financeira, por isso o planejamento é importante, adverte a psicóloga e orientadora profissional Lygia Costa. “É preciso planejamento, além de economizar. Para isso a pessoa tem que estar disposta a perder algo”, diz.
“Ampliar a rede de contatos se aproximando de pessoas que tenham relação com a nova carreira pode ser interessante”, acrescenta a psicóloga.
Lygia aponta três principais motivos que levam a essas mudanças: “A pessoa percebe que aquela função não tem a ver com ela; ela não consegue equilibrar vida pessoal e profissional; ou a profissão não apresenta mais desafios”, enumera.
A paixão falou mais alto
Roteiros de viagem, orçamento, passaporte, visto, traslado: palavras que, por oito anos, fizeram parte da rotina de Flávia Martins, 38 anos. “Eu era muito feliz na área do Turismo. Tinha uma vida financeira estável, mas uma paixão falou mais alto”, explica ela, que hoje atua como fotógrafa.
Foi acompanhando o trabalho de fotógrafos em eventos que a vontade de se dedicar a esse ofício cresceu. “Eu já gostava de fotografia, mas nunca tinha estudado as técnicas”, comenta ela, que aprendeu tudo com a atual sócia na empresa “Isabela Machado & Flávia Martins Fotografia”, aberta em 2012.Lucas Prates / N/A
Flávia Martins deixou o Turismo para abrir uma empresa de fotografia e agora “viaja” pela lente das câmeras
Mesmo sendo algo incerto, ela se aventurou. “Não tinha nada estruturado quando deixei o Turismo. Mas as coisas foram acontecendo e agora tenho uma empresa. A satisfação pessoal vale muito a pena”, diz Flávia, que deixou amigos e familiares preocupados. “Diziam que eu iria trocar o certo pelo incerto. E questionavam se era mesmo o que queria”, conta. Decisão que não se arrepende: turismo agora só nas viagens para cobrir eventos.
Escolha pela música
Essa é a segunda vez que Lício Daf, 38 anos, realiza uma mudança profissional de forma radical. Na casa dos 20, ele deixou as Ciências Gerenciais para se dedicar à Comunicação Social. Após atuar dez anos como jornalista, Lício decidiu recomeçar sua história como músico e engenheiro de som. “Espero que aos 60 eu tenha a mesma disposição, vitalidade e prefira arriscar do que ficar sentando no sofá”, brinca.
Mesmo sendo um apaixonado confesso pelo Jornalismo e nunca ter lidado com a falta de trabalho nessa área, Lício quis mesmo se aventurar. Há dois anos ele saiu de Belo Horizonte rumo à Irlanda, para estudar no Windmill Lane Recording Studio – conhecido por ser o estúdio da banda U2 e ter recebido artistas como Rolling Stones e David Bowie.
“O tempo voa, minha formatura é nos próximos meses. Nesse tempo gravei algumas das minhas composições e estou com um EP debaixo do braço para lançar esse ano”, comemora ele, que contou com o apoio da família e amigos. “Todos alertaram para os riscos, mas as palavras de incentivo foram as que coloquei na mala para pegar a estrada”, afirma o moço que, assim que pegar o diploma, volta à capital mineira. “Tenho um papel a desempenhar na cidade onde deixei meu coração”.Arquivo pessoal / N/A
Duas mudanças e muito fôlego: “Prefiro arriscar do que ficar sentado no sofá”
“Para a vida toda”
Nome conhecido na cena musical da capital, o violonista Thiago Delegado, de 33 anos, cursou Engenharia e chegou a fazer matérias de mestrado na área. “Eu era um bom aluno. Mas é cruel aos 17 anos você ter que escolher o que vai ser a vida toda”.
Com o apoio da família, ele deixou a Engenharia e seguiu a carreira que lhe falava mais alto ao coração. “A música aconteceu na minha vida. Não era o foco no início, mas hoje vejo que foi uma escolha feliz”, comenta o violonista, que possui três discos lançados e um DVD, além do projeto “DelegasCia”, no qual convida artistas de vários gêneros para dividir o palco. “Talvez estivesse com uma graninha boa como os amigos que seguiram na Engenharia, mas estou satisfeito”, brinca.