Na peça 'Outros', Galpão reflete sentimento sobre 'estar à beira do abismo'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
15/10/2018 às 18:16.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:58
 (GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO)

(GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO)

 Primeiro, “Nós”. Agora, “Outros”. Além de as duas peças estamparem um simples pronome no título, aparentemente de significados opostos, a segunda parceria do Galpão, histórico grupo teatral mineiro, com o diretor Marcio Abreu, com estreia nesta sexta-feira, no Galpão Cine Horto, radicaliza um dos elementos presentes em “Nós”, algo que nos bastidores ficou convencionado como “escuta sócio-perfomartiva”. O que isso representa dentro da trajetória de 36 anos da companhia tem explicação no lugar do artista nos tempos atuais. “É o artista como testemunha do tempo presente, afirmando uma arte de maneira que reverbere e se inscreva no seu tempo. O que motiva esta peça é projetar, pensar e investigar futuros possíveis a partir de uma vivência muito consciente do tempo real e presente”, registra Abreu. À beira do abismoFundador do grupo e integrante do elenco de “Outros”, Eduardo Moreira assinala que o diálogo com o momento político atual do país está muito forte, refletindo um sentimento de “estar à beira do abismo, com a peça de alguma maneira, não explicitamente, traduzindo este momento de expectativa”.  Nesta construção, o ator destaca o intenso trabalho ligado à performance durante a preparação. “A gente foi para rua, em várias performances, para estabelecer um ponto de escuta com esses ‘outros’. Não que o resultado deste processo esteja no espetáculo: o que veio foi uma atitude, uma presença”, registra Moreira.  Apesar de o Galpão ter sua origem no teatro de rua, “Outros” cria uma via de interlocução diferente. “É mais uma performance mesmo, no sentido de fazer o outro falar a partir de uma intervenção sua”, afirma. O ator revela que o espetáculo não tem uma trama muito definida, calcando-se mais em situações que vão se propondo. “Isso exige de nós, atores, um outro tipo de atenção, de jogo, que não é (o jogo) da representação”, destaca Moreira, deixando no ar a dúvida se haverá uma participação mais efetiva do público durante a apresentação, com as situações sendo determinadas pelo o que oferece a cada noite. Ágora“Nas peças que fiz nos últimos anos, busco tornar o espectador um ente ativo, participante, inteligente e sensível. E não como massa manipulável, passiva, como querem fazer com a população agora. O teatro é uma ágora, em que a plateia tem o maior valor. O teatro é público, é ele quem faz o teatro. Tanto em ‘Nós’ como em ‘Outros’, temos a afirmação deste lugar do teatro, da dimensão do público”, observa Abreu, fazendo referência ao termo grego que significa a reunião de qualquer natureza O diretor, integrante da Companhia Brasileira em Teatro, deixa bem claro que não há nenhuma manifestação política ou partidária na peça. “A arte é um ato de liberdade, da possibilidade de coexistência das diferenças e de pensar futuros possíveis com humanismo e democracia. “Isso aparece na peça como linguagem, com uma estrutura dramatúrgica e não com discursos de poder que se esvaziam”, explica.  SERVIÇO:“Outros” – No Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613 – Horto). De quarta a sábado, às 21h. Domingo, às 19h. De 19 de outubro a 18 de novembro. Ingressos: R$ 40 (R$ 20, a meia).

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