Um dos temas principais é a falsa sensação de conforto que a tecnologia nos oferece hoje em dia (Paris Fillmes/Divulgação)
Um dos elementos mais presentes em filmes de suspense sobre pessoas perdidas em determinado local, aterrorizadas por alguma ameaça imediata, é a falta de comunicação.
Em cartaz nos cinemas, "A Hora do Desespero" segue um caminho diferente e curioso, em que a comunicação não só está presente como também é ela que amplia a sensação de angústia.
Naomi Watts passa o tempo inteiro com um celular na mão em busca de informações sobre o filho, cuja escola foi invadida por um atirador. Ela tem acesso fácil a telejornais e agentes policiais.
O que altera substancialmente é a imaginação. Sem chegar à escola do filho, após uma despretensiosa caminhada pelas redondezas, a quantidade de informação acaba sendo o empecilho.
A polícia não sabe ou propositadamente omite as informações que ela precisa. O aplicativo de transporte foi acionado, mas o carro demora a chegar. Aparentemente está tudo à disposição.
Um dos temas principais do filme é a falsa sensação de conforto que a tecnologia nos oferece hoje em dia. O único apoio são vozes sem rosto, em que não sabemos se possível confiar.
Com um currículo recheado de títulos de suspense, como “Jogos Patrióticos”, “Perigo Real e Imediato” e “Salt”, o diretor australiano Phillip Noyce domina muito bem os ingredientes de expectativa.
Uma das poucas cenas em que a protagonista tem um contato tête-à-tête com outras pessoas é o suficiente para estabelecer uma dúvida que norteará a história até quase o desfecho.
À essa informação preliminar e subjetiva se soma uma imaginação crescente, compartilhada com o público, potencializada por vozes metálicas que geram mais desconfiança do que segurança.
É como se o filme ganhasse vários contadores de histórias de terror, estabelecendo um inimigo que tenta nos vencer primeiramente pelo psicológico, algo muito próximo da realidade de hoje.
A personagem de Naomi Watts não recorre a redes sociais, valendo-se apenas de ligações normais e alguns aplicativos, mas é evidente que estamos entrando no nebuloso universo virtual.
O medo é maior diante daquilo que não identificamos, uma premissa que vale para o cinema, embora alguns filmes prefiram ser mais explícitos, e também para uma realidade posta em xeque.
Como a protagonista que cria suspeitas em sua cabeça, nós não passamos impunes a quantidade de “verdades” lançadas nas redes, acumulando dúvidas onde não deveria haver.
A floresta em que a personagem passa boa parte da trama vira uma interessante metáfora sobre nossa mente conturbada, cheia de bloqueios e filtros que nos levam a outros caminhos.
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