Nas telonas, "Liv & Bergman" vai além de uma história de amor

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
22/02/2013 às 10:37.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:15
 (Bengt Wanselius)

(Bengt Wanselius)

Apesar de o título apontar para algo mais íntimo, o documentário "Liv & Bergman – Uma História de Amor" não se limita necessariamente ao relato amoroso entre a talentosa atriz norueguesa Liv Ullmann e um dos maiores cineastas da história, o sueco Ingmar Bergman.

Ao refazer os pontos altos (e baixos) de uma relação intensa, o filme, que estreia nesta sexta-feira (22) no Belas Artes, está falando também da rica dobradinha do casal no cinema em 12 títulos, mais extensa que o convívio sob o mesmo teto. O grande tema de Bergman não foi outro que não a vida a dois.

Quando Liv lembra, com muita franqueza, do excesso de controle de Bergman ou da grande carência afetiva dela, é impossível não se lembrar de filmes como "A Hora do Lobo" (1968), "A Paixão de Ana" (1969) e "Cenas de um Casamento" (1973).

Confinamento

Ao mencionar a necessidade de Bergman em se isolar na ilha de Faro, cenário de várias produções do cineasta, sufocando Liv a ponto de proibi-la de levar amigos e familiares ao local, logo vem à mente "A Hora do Lobo", espécie de justificativa para esse confinamento.

No filme, um pintor e sua esposa vão morar numa ilha bastante afastada da sociedade, onde sua paz é abalada por um misterioso grupo que os levam a recordar de fatos desagradáveis. A mensagem contra o "intruso" foi reforçada no mesmo ano, quando lançou "Vergonha", em que soldados invadem a ilha de um casal e compartilham as atrocidades da guerra.

Nessa época, Liv já morava com Bergman, ressentida do fato de seu companheiro nunca estar presente de corpo e alma em sua vida. "Ele estava por perto", afirma a atriz ao registrar o foco do diretor em seu trabalho.

Atrofia

Os dois conviveram de 1966 até 1971. Mesmo após o fim traumático, Liv não deixou de trabalhar com o ex. Dois anos depois participou de "Cenas de um Casamento", que aborda justamente a atrofia das emoções numa relação e deu a Bergman o Oscar de melhor produção estrangeira.

Filme é baseado em depoimentos e cartas

O documentário de Dheeraj Akolkar, carrega muitas semelhanças com outra produção, italiana, sobre relação de diretor e sua atriz. Na verdade, suas atrizes.

"A Guerra dos Vulcões" acompanha o triângulo formado por Roberto Rossellini com Anna Magnani e Ingrid Bergman no momento em que elas filmavam em duas ilhas próximas.

Enquanto esse se atém à polêmica (a disputa entre as atrizes, com clara preferência para Magnani), Akolkar tenta alcançar a dimensão intensa e contraditória com que Ingmar revestiu suas histórias.

Calcado nos depoimentos de Liv (e em cartas do diretor), o filme evidencia o deslumbramento da atriz por um homem inteligente e amigo com quem não podia conviver como casal.

O fracasso da relação ao contrário de diminuir o trabalho do cineasta, engrandece ainda mais uma trajetória marcada pela complexidade do ser humano.

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