No bojo de seus 70 anos, Sindicato dos Jornalistas investe no viés cultural

Pluralidade. Esta seria a palavra mais apropriada para explicitar as diretrizes que regem o recente Espaço Cultural Casa do Jornalista – inaugurado em maio último. Funcionando na já conhecida edificação da Casa do Jornalista – localizada à avenida Álvares Cabral, 400 – o espaço marca os 70 anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG e os 50 de funcionamento ali.

Kerison Lopes, atual presidente do sindicato, explica que a ideia é transformar cada vez mais o endereço em um espaço público. “Estamos no centro de BH, próximo ao (edifício Arcangelo) Maletta, por exemplo. E temos toda uma vocação cultural”, sustenta.

Diretor de Cultura da entidade, Artênius Daniel lembra que a Casa já foi palco de diversas ações culturais. No entanto, esta característica teria se perdido ao longo do tempo. “O local tem um passado muito ligado à cultura. A ideia, agora, é resgatar (esta vocação)”, afirma. Sob a gerência do produtor cultural Edmundo Corrêa, quatro principais eixos estão sendo tocados: Muro das Liberdades de Expressão, espaço para exibição de audiovisual, painel de fotos da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Aforc-MG) e palco para apresentações.

O local, que possui serviços de bar e restaurante, é, ainda, frequentemente requisitado para lançamentos de livros, realização de debates, intervenções, saraus ou exposições, dentre outros eventos políticos e culturais.

Para tanto, passou por um processo de revitalização e, desde então, já recebeu mais de 100 artistas. O próximo a se apresentar por lá é Eliezer Gonçalves, mostrando o repertório do seu mais recente disco, “Afinal, Tudo é Subjetivo?” – dia 14, às 21h.

Painel

No estilo lambe-lambe, um a das primeiras ações implantadas foi o painel da Aforc, mesclando frases que remetem ao fazer jornalístico a edições antigas do jornal carioca “Meia Hora” e imagens de figuras do meio político e cultural. “O lambe-lambe tem caráter de rua, de ocupação do espaço público, o que tem muita relação com o jornalismo. Já as imagens sempre pensam o jornalismo de alguma forma”,diz Artênius.

MÚSICA – O palco recebe artistas independentes locais (Foto: Sandro Fox/Divulgação)

Espaço democrático e de liberdade de expressão

Outro filão que o Espaço Cultural quer explorar é dar oportunidade a artistas e eventos independentes. Um exemplo é “Exhale the Sound Festival 2015”, previsto para 6 de novembro, na Casa do Jornalista, e 7 do mesmo mês, no Espaço Nook. Nele, 20 bandas do Brasil e de Portugal vão buscar a interação do público com a cultura underground.

Palco de resistência à ditadura – tendo sido alvo de atentados por mais de uma vez – o sindicato tem seu caráter ideológico, tão inerente ao ofício do jornalista, pouco a pouco também estampado em uma das paredes da Casa, em uma iniciativa sugestivamente batizada “Muro das Liberdades de Expressão”. Nela, artistas estão sendo convidados a grafitar frases. A primeira foi feita por Wilson Vinícius, e é de autoria do jornalista Dídimo Paiva: “Jornalista tem que ser um questionador imparcial, livre pensador a serviço da informação, da cultura e da história”.

No cômputo geral, a programação oficial prevê, ainda, várias atividades para a primeira semana de abril do próximo ano – no dia 7 deste mês, comemora-se o Dia do Jornalista. Haverá, por exemplo, debate, entrega de homenagens, exposição fotográfica em parceria com a Arfoc e uma atividade aberta à população.

Livro

Um livro vai selar os 70 anos do sindicato. “É uma história muito rica”, adianta Mauro Werkema, que tomará posse como diretor da Casa do Jornalista este mês.

Além da resistência à ditadura, ele lembra que, por lá, passaram nomes que icônicos. “E aqui já foi sede de outros sindicatos, como o dos médicos e o dos professores. Vamos resgatar isso e fazer uma relação da história da Casa do Jornalista com o sindicato”, promete.