Nos cinemas, "Guerra Mundial Z" é apenas mais um filme sobre o fim do mundo

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
26/06/2013 às 10:18.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:29

Milhares de pessoas nas ruas, trânsito completamente congestionado, gente machucada e vandalismo. As primeiras cenas de "Guerra Mundial Z", em pré-estreia nesta quarta (26) e na quinta (27) nos cinemas, poderiam muito bem ilustrar as manifestações que varrem o país atualmente.

Por ser um thriller de horror, a produção protagonizada por Brad Pitt deveria ter, como premissa, um ingrediente largamente presente na realidade brasileira: o inesperado, impactando o público justamente pelo que há de imprevisível em seu desenvolvimento.

E por que, então, nos sentimos vendo um repeteco de centenas de filmes com zumbis e sobre o fim do mundo? Enquanto as passeatas se tornaram um fenômeno popular que precisará de anos para ser plenamente compreendido, as razões do insucesso de "Guerra Mundial Z" são facilmente reconhecíveis.

Salvador do mundo

A principal delas é a falta de identidade do personagem vivido por Pitt, um ex-observador (?) das Nações Unidas que é pressionado a voltar à ativa, tornando-se o salvador do mundo. Ele logo é arremessado para uma Nova York infectada, em cenas que deveriam nos deixar intrigados com a causa de tamanho transtorno.

É o mesmo início de "Fim dos Tempos", de N. Night Shyamalan, e "Contágio", de Steve Soderbergh, quando pessoas começam a morrer sem sabermos os motivos. O filme de Marc Forster se contenta com essa linha, sem privilegiar o lado humano do personagem.

Sabemos que seu desejo é reencontrar a família, mas tudo soa tão artificial que nem mesmo Pitt (que é um bom ator) consegue tirar a sensação de o personagem ser também um "morto-vivo". Teleguiado em ações que só reforçam o militarismo da empreitada, sem provocar qualquer reflexão.

Muros

Há bons momentos que são desperdiçados em favor do impacto visual, quando, por exemplo, um país se fecha, com enormes muros, para evitar a chegada da epidemia – o que seria, se bem conduzida, uma excelente crítica a países europeus que aumentaram as barreiras contra a imigração.

Falta esse olhar mais incisivo sobre a grande ameaça que não é mais nuclear, mas sim provocada pela ambição desmedida dos homens. Seria uma resposta da nossa vontade em ser Deus? De que precisamos deixar de olhar para o umbigo?
O filme não pretende nos instigar a nada. Não existe muito menos o medo do oculto, do que pode estar sendo feito em algum canto do mundo, com resultados danosos. Característica que "Fim dos Tempos" e "Contágio" tinham de sobra, de forma exacerbada ou não.

Enquanto "Fim dos Tempos" tem como um dos seus trunfos o fato de a Natureza ser também um personagem ativo, reagindo às arbitrariedades do ser humano, "Guerra Mundial Z" prefere enfatizar mais uma vez os Estados Unidos como xerifão do mundo, sanando qualquer problema no muque.

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