Nos retratos de Jairo Goldflus, gente é pra brilhar

Patrícia Cassese - Do Hoje em Dia
04/02/2013 às 10:04.
Atualizado em 21/11/2021 às 00:41
 (Jairo Goldflus/Reprodução)

(Jairo Goldflus/Reprodução)

Nas últimas semanas, o fotógrafo paulistano Jairo Goldflus confessa estar sentindo meio que uma crise de abstinência. Normal. Concluído o trabalho sobre o qual se debruçou nos últimos anos, ele sabe que fechou um ciclo – é hora, portanto, de projetar outra história, que, aliás, já tem até alguns alinhavos. A "droga" cuja falta o deixa inquieto, os amantes da fotografia podem conferir no recém-lançado livro "Público" (Editora Livre, R$ 250).

A edição de capa dura, em papel cuchê fosco, reúne ensaios com personalidades como atores, músicos, estilistas, escritores, modelos e esportistas. Como lembra o material de divulgação, do "A" de Antônio Fagundes ao "Z" de Zeca Pagodinho.

Na entrevista ao Hoje em Dia, foi o próprio Jairo a cunhar a expressão "síndrome de abstinência". O curioso é que a série que agora ganha o suporte livro começou de forma despretensiosa.

Conhecidíssimo no meio publicitário, além de ser o nome por trás de belos editoriais, Goldflus se deu conta de que já vinha, há um longo tempo, trabalhando para os outros. "Como meu estúdio é um galpão, comecei, meio que na brincadeira, a pedir que os fotografados fizessem uma pose particular para mim, após a sessão. Com as fotos, fui montando uma espécie de varal (no estúdio)". Veio o primeiro. E o segundo... Quando já contabilizava algo em torno de 190 imagens, começaram a pipocar as perguntas de "Por que você não as reúne (as fotos) em uma publicação?". "Comecei a me empolgar, mas vi que havia algumas pessoas a ir atrás".

Exemplos? "Sebastião Salgado, Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, os Campana, Amyr Klink, Miguel Nicolelis, Verissimo, Chico, Caetano e Gil... Tive a paciência de esperar o momento certo".

Com Salgado

Sim, não ouse proferir a palavra pressa com Jairo. O moço de 45 anos (25 no batente), nascido no Bom Retiro, até funciona, sim, sob pressão. Mas não é a sua escolha primeira. Os nomes acima referem-se a personalidades que raramente (ou nunca) emprestaram sua imagem à publicidade. Por isso, foram convidados a posar para as lentes de Goldflus.

"No caso do Sebastião Salgado, meio que caiu no meu colo. Estava almoçando com um amigo meu, que por sua vez encontrou um amigo, que falou que o Salgado ia ao Instituto Homem Pantaneiro (no Pantanal) e precisava de alguém para recebê-lo". Jairo, mais que depressa, se ofereceu. Passou dez dias com o mineiro e, ao final, perguntou se Salgado topava ser fotografado. Para sua alegria, ele assentiu.

Tirando as ‘pedras’ do caminho com "savoir faire"

História curiosa está por trás do clique da pianista portuguesa Maria João Pires. "Ela estava em turnê com o Antonio Meneses e tinha uma apresentação em Bruxelas. Me deu a louca, fui para Paris, peguei um trem para Bruxelas... Mas acho que essa dificuldade entre aspas faz parte da foto. Acho natural ir atrás de quem admiro".

Ao mesmo tempo, Jairo diz ter os pés no chão. "Poderia querer um retrato do (Steven) Spielberg, mas sei que haveria todo um trâmite para conseguir isso. Trabalho em cima do possível", diz, modesto.

Diferencial

O pulo do gato do trabalho, entende Goldflus, é o método. "Uma coisa é fotografar com intuito editorial ou publicitário. Neste caso, não havia a obrigação de ficar bonito, ter o cabelo no lugar. A foto é resultado de um dia de trabalho. Converso muito (com o modelo), sou falastrão. Cria-se uma simbiose, como se fôssemos velhos novos amigos". Outra característica é o uso de um propulsor, que permite acionar a câmara de longe. Assim, não existe uma lente entre o fotografado e Jairo. Mesmo as fotos que exigiram uma produção maior – como a de Cauã Reymond encarnando Courtney Love – foram clicadas assim.
 

Isabeli Fontana é uma das beldades que já foi clicada por Jairo Goldflus

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