(Alexandre Sant'Anna)
PARATY, RJ - Alice Sant'Anna, Bruna Beber e Ana Martins Marques são jovens, bonitas e revelações da poesia brasileira contemporânea. As três participaram na manhã de hoje da primeira mesa da programação oficial da Flip. A mediação do encontro foi feita por Noemi Jaffe, crítica literária e escritora. O cotidiano da escrita e a relação das autoras com as palavras guiaram a conversa. A partir do nome da palestra, "O Dia a Dia Debaixo d'Água", Noemi Jaffe propôs uma reflexão sobre a relação entre a poesia e o mar, tema comum nos trabalhos das três. "Acho que realmente há uma relação forte entre eles. O poema é algo que vem à tona, que dá forma a algo que estava submerso, escondido", disse Ana, 35. Bruna, 29, completou que "a sede, a amplitude e o desconhecido", temas associados ao mar, também são inerentes à poesia. Outro traço em comum apontado foi a sensação de desencanto, tanto com a realidade quanto com as palavras, que permeia os versos das três. "Eu costumo usar versos mais longos. Tento criar uma ambiguidade. Você pode ler com um sentido ou com outro, dependendo da pontuação que você faz. Acho que paira uma sombra que dá o tom ao poema", comentou Alice, 25. A mediadora Noemi Jaffe também afirmou que as três poetas fogem do lirismo clássico para fazer uma espécie de "lirismo antilírico, sem amor". "A coisa mais difícil e mais fácil é escrever um poema de amor. É difícil não soar cafona, clichê", argumentou Alice. "Acho interessante falar de coisas que não são sublimes, grandiosas, como uma maçaneta. Acho que os poemas de amor estão nas maçanetas, disfarçados." Para Ana, o tema do amor parece mais camuflado em sua obra, revestido por camadas de ironia. O momento mais descontraído da mesa ocorreu quando Bruna questionou a mediadora. "Noemi, até você me dizer isso, eu achava que falava muito de amor, de um grande sentimento", disse a poeta, sob aplausos e risos do público. "Mas acho que nós três temos a característica dessa maravilhosa fruta, que é o tamarindo: é o azedinho doce. Acho que rola isso, uma picadinha e um beijinho." "No caso, mais picadinha que beijinho", brincou a mediadora.