Novas plataformas para as narrativas literárias

Leida Reis - Enviada Especial
01/08/2014 às 08:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:36
 (Walter Craveiro)

(Walter Craveiro)

PARATY – A morte do escritor está decretada. Nasce o “multitask”, capaz de assumir todas as etapas da obra literária, da escrita à comercialização, passando pela escolha da capa, edição e revisão.
 
Em tempos de crescimento das publicações em e-book, o Itaú Cultural lançou, durante a Festa Literária de Paraty (Flip), a 17ª edição da revista “Observatório”, com o tema “Livro e Leitura, das Políticas Públicas ao Mercado Editorial”, incluindo o debate sobre as novas plataformas para as narrativas literárias.

Assim como se foi o tempo do tipógrafo, que, ao compor o livro, fazia alterações muitas vezes substanciais no conteúdo (por isso dele fugia Petrarca, que confeccionava as próprias obras, como lembra o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João Cezar de Castro Rocha), as ferramentas eletrônicas o transformam no dono de todo o processo.

As reflexões dessa realidade do século 21 estão disponíveis para download gratuito pela Amazon, Saraiva e Apple.
 
Mesmo os autores que ainda não publicam e-books lançam mão de ferramentas eletrônicas para conhecer o público e divulgar os livros de papel. Thalita Rebouças, fenômeno entre o público infanto-juvenil com 1,5 milhão de livros vendidos, por exemplo, é uma das que recorrem à sua fanpage no Facebook para saber o que pensa o seu leitor.

O estudo apresentado pelo pesquisador Fábio Malini mostra o mergulho feito pelos escritores no mundo digital. “O que é capaz de mobilizar é a amizade, o compartilhamento de posts que divulgam aquele autor”, afirma.

A professora Cristiane Costa aponta a substituição do poder do “boca a boca” pelas redes sociais.

Para o CEO do PublishNews, Carlo Carrenho, a publicação on-line, por custar 50% do preço do livro de papel, democratiza o acesso à literatura.

Os debatedores concordaram, no entanto, que a qualidade do que sai pela web, onde os critérios de seleção das editoras não são pré-requisitos para a publicação, fica sem garantia.

O Itaú Cultural promoveu também um debate sobre o livro de ensaios, a ser lançado em novembro, “A Primeira Aula”, em que professores de literatura brasileira no exterior abordam a missão nem sempre fácil de ensinar a obra de autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa e outros não menos importantes a alunos sem o domínio pleno da língua portuguesa.
 
Primeira mesa do evento confirma perfil político e social da edição
 
A primeira mesa da Flip, realizada nessa quinta-feira (31) pela manhã, confirmou o perfil político e social da edição da festa literária de Paraty este ano. Antes das presenças do russo Vladmir Sorókin, o ex-diplomata chileno Jorge Edwards e o jornalista do “The Guardian”, Glenn Greenwald, entre outros, a mesa José Kleber discutiu os equívocos das políticas de segurança pública.

A socióloga da África do Sul Rene Uren, que trabalha para uma organização alemã numa comunidade do interior do seu país, apontou algumas soluções para a violência que independem da ação policial. Contou, por exemplo, que mulheres desempregadas retomaram as ruas e fazem patrulhamento sem armas, interferindo efetivamente na ação dos criminosos.
 
Fundador do Observatório das Favelas, no Rio de Janeiro, o geógrafo Jaílson de Souza e Silva defendeu também que as políticas de segurança incluam ações de cidadania e não se resumam às UPPs.

Já a antropóloga paulista Paula Miraglia apontou problemas em grandes obras estruturais do país, como o Pré-sal, a usina de Belo Monte e o “Minha Casa, Minha Vida” por não incluírem prevenção da violência e acabarem por reforçá-la.

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