(Divulgação)
Praticamente toda a ação do filme “O Grande Hotel Budapeste” – principal estreia de nesta quinta-feira (03) nos cinemas – acontece da esquerda para a direita, um expediente usado pelo diretor Wes Anderson para dar um “falso” ritmo frenético à narrativa. A sensação de movimento se dá, na verdade, dentro do quadro, muitas vezes com a câmera parada. Não é algo exatamente novo, porque filmes dos primórdios do cinema já recorriam a esse truque, baseando-se na percepção do nosso olhar. Como a câmera é o olho do espectador, a sensação é de uma progressão naquele plano e, no caso de “O Grande Hotel Budapeste”, em todo o filme. A produção, por sinal, conta com muitos elementos do cinema da primeira metade do século passado. COMÉDIA MALUCA O hotel do título e muitas das paisagens são maquetes ou paredes pintadas. É a maneira como Anderson escolheu para dar um ar de charmoso anacronismo ao filme, aproximando-se das movimentadas screwball comedies (as comédia malucas). Todo o elenco – entre eles Ralph Fiennes, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton e Harvey Keitel – se volta para o mesmo objetivo: achar um quadro deixado como herança. Apesar de envolver uma história policialesca, há muito humor de situação e pastelão. Mas Anderson busca o subgênero não como uma simples homenagem, interessando-se mais no descompasso presente na maior parte de suas histórias: o riso não é completo porque parece carregar algo de estranho e particular a uma época. Foi assim com o tom “europeu sessentista” de “Moonrise Kingdom”. Agora, a sua intenção é mais clara ao, baseando-se num texto de Stefan Zweig (poeta austríaco falecido em Petrópolis em 1942), falar sobre um prazer cada vez mais raro em torno da memória oral.