O cotidiano visto por Marcos Pimentel

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia *
19/11/2014 às 08:42.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:04
 (Rogério Resende/Cine Ceará)

(Rogério Resende/Cine Ceará)

FORTALEZA – Um senhor passa o dia inteiro torcendo para as horas passarem rapidamente até chegar o momento de ir para a gafieira, onde dança com várias frequentadoras. Outro trabalha nas vias subterrâneas das ruas e espera poder melhorar a sua própria casa. Já uma garota com síndrome de Down faz de tudo para ser uma bailarina profissional.   São vários sonhos e desejos que o diretor mineiro Marcos Pimentel capta nas ruas de Belo Horizonte, que vão dos mais simples aos quase impossíveis. “Não julgo o sonho de ninguém, todos têm a mesma importância para mim. O que quero mostrar é que, da criança à pessoa de idade mais avançada, ninguém deixa de sonhar. Faz parte da condição do ser humano”.   Com o título “A Parte do Mundo que Me Pertence”, o documentário está à espera de recursos para finalização. É um dos projetos que Pimentel se debruça num hotel de Fortaleza, enquanto não está no Theatro José de Alencar para avaliar, como integrante do júri, os filmes da mostra competitiva de curtas-metragens do 24º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.   Doc tv   O filme é um desdobramento de um trabalho desenvolvido para o projeto “DOC TV – América Latina”, intitulado “Horizontes Mínimos” e exibido em 2012. Pimentel ganhou US$ 70 mil para abordar o tema num média-metragem, mas “guardou” vários personagens (são nove, ao todo) para protagonizarem um longa.   “O que mais me chamou a atenção é como os sonhos são os combustíveis que nos movem, impulsionando a gente a conseguir alguma coisa, independentemente do que seja. E o caminho que escolhem é muito pessoal: podem trabalhar ou apostar na loteria”, registra o realizador, que é “pé quente” no festival cearense.   Em 2014, ele ganhou vários troféus por seu curta “Sanã”. A primeira vez que saiu vitorioso no Cine Ceará foi em 2006, quando recebeu os prêmios de filme e direção por “O Maior Espetáculo da Terra”.    Curiosamente, todas as vezes que sua obra foi anunciada como vencedora no palco, Pimentel não estava presente. “Estava em outro festival, dando aula ou filmando. O que gerou situações curiosas, pois as pessoas lembram dos filmes que ganharam, mas eu não participei dos debates, geralmente sendo representado por alguém da equipe”, ressalta Pimentel, que também está preparando o lançamento do longa “Sopro” nos cinemas, finalizado no ano passado.   Em seu apartamento de hotel, também se dedica a fazer a decupagem do material de outro documentário, provisoriamente chamado “Ministrinho”, sobre um compositor de sambas de Juiz de Fora, que fundou a primeira escola de samba de Minas, Turunas do Riachuelo, hoje a quarta mais antiga do Brasil.   “O Ministrinho tem uma importância grande para a cultura da cidade, criando sambinhas nas décadas de 40 e 50. Foi também jogador de futebol, operário de companhia elétrica e super boêmio. A história dele me possibilita contar um pouco da boemia da cidade”, registra Pimentel, que está fazendo o filme com apenas R$ 28 mil, da Lei Murilo Mendes.   O realizador observa que o filme é muito diferente dos seus trabalhos anteriores, sendo a primeira vez que não foca um personagem anônimo. “É uma espécie de preocupação minha com o imaginário afetivo de Juiz de Fora, onde eu nasci, resgatando memórias e histórias de coisas que eu não vivi, mas que reverberam em mim”.   (*) O repórter viajou a convite da organização do Cine Ceará

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