(Daniel Mansur)
O azul, fiel companheiro de Fernando Lucchesi em grande parte de suas obras, é o grande homenageado do artista em sua nova exposição. A mostra, que pode ser vista na Galeria Dotart, é uma delicada instalação composta por peças de outros artistas e que integravam a coleção de obras de arte particular do pintor. “Um dia, acordei triste, com uma vontade danada de me livrar das coisas. Um sentimento que ora ou outra aparece muito pelo fato de morar sozinho em um lugar distante. Pintar aquelas obras foi como um exorcismo e o azul, meu parceiro de décadas, me acompanhou profundamente neste momento”, revela. Além de objetos, Lucchesi debruçou-se também sobre o chão, as paredes, móveis. E o ateliê, que até ali estava sujo que só, ganhou ares e cores novas. “Do momento de delírio, encontrei diante de mim uma coleção de arte azul”. No entanto, somente uma parte do que foi pintado pelo artista será vista pelo público – a outra metade ficou no ateliê, porque não coube na galeria. “A instalação original ocupa 4 metros do pé direito do meu ateliê, enquanto na Dotart são apenas dois”. Entre as peças que ganharam roupagem nova está uma cama do século 18 e trabalhos do escultor Artur Pereira (1920– 2003) e seus discípulos. “Não diria homenagem. Talvez a palavra certa para o que fiz seja ‘profanação’. Mas é que às vezes acumulamos muito e só depois percebemos que não vale tanto tudo o que guardamos”, ensina ele. Para além do infinito Autodidata, Lucchesi foi um dos poucos mineiros a elencar uma das mais importantes exposições da década de 1980. “Como vai você, Geração 80?”, com curadoria de Marcus de Lontra, serviu como termômetro de tendências artísticas daquele momento. Dos 123 artistas participantes, a maior parte era paulista ou carioca. Entre os nomes: Beatriz Milhazes, Leonilson, Luiz Pizarro... “Era tanta gente que custei arranjar um lugarzinho, mas até que consegui o espaço que queria”, recorda ele. Nesta quinta-feira (29), durante a abertura da mostra, o artista vai aproveitar para lançar “Fernando Lucchesi – O Finito e o Infinito” (Editora C/Arte, R$ 80, 204 páginas): uma retrospectiva de três décadas de trabalho e arte. “A gente acha que vai sossegar quando envelhecer, mas que nada! Pelo menos estou aqui, com o meu azul”. Fernando Lucchesi - Galeria Dotart (rua Bernardo Guimarães, 911, Conjunto 20 – Funcionários). 2ª a 6ª, das 9 às 19 horas. Sábado das 9 às 13 horas. Até 28 de junho