O Hoje em Dia foi saber se Dave Grohl é mesmo o músico mais legal do rock

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
28/01/2015 às 08:46.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:49
 (Marcos Hermes)

(Marcos Hermes)

Ele foi baterista do principal grupo de rock dos anos 90, já tocou com muitos dos maiores nomes da música (como Paul McCartney e Jimmy Page), esbanja bom humor, sempre dá um jeito de desenvolver um projeto interessante e criou uma banda que há 20 anos está no topo do sucesso – mesmo que os críticos questionem muito a qualidade de suas produções.
Não à toa, toda hora alguém afirma que Dave Grohl é o cara mais legal do rock. Será mesmo? Aproveitando a passagem do Foo Fighters por Belo Horizonte, esta noite, o Hoje em Dia perguntou a alguns entendidos do universo do rock quanto há de espontaneidade e quanto há de marketing nas ações do músico.
Para Terence Machado, apresentador e produtor do programa “Alto Falante”, da Rede Minas, não é possível dizer que Grohl é totalmente “cool” ou um grande estrategista. É, na verdade, as duas coisas. Antes de qualquer coisa, um artista que sabe bem aproveitar as oportunidades.
“O Dave Grohl é um cara que aprendeu muito com o sucesso do Nirvana, sua banda anterior. Muitos desperdiçam essa chance. Ele saiu de uma posição de menor destaque na banda, conseguiu criar seu próprio projeto, resolveu compor, cantar e tocar guitarra e fazer quase tudo sozinho. Foi corajoso, competente e obteve maior sucesso com o tempo”, afirma Terence.
O jornalista é um dos vários que, mesmo não vendo no Foo Fighters uma grande qualidade estética, reconhece o valor do trabalho desenvolvido pelo vocalista/compositor/líder.
“Para mim, é exagerada tanto a mania de tentar superestimar tudo que Dave Grohl faz quanto a de querer menosprezar ou minimizar suas boas produções, o músico competente que é e suas principais conquistas. Fato: não foram poucas”, diz Terence, que apostaria, na verdade, em Alex Turner, do Arctic Monkeys, ou em Josh Homme, do Queens of the Stone Age, se tivesse que escolher os “mais legais do rock” na atualidade.
“Mas, sem dúvida, se estivesse que apontar uma espécie de ‘diplomata do rock’, escolheria Grohl, facilmente”, arremata.
Simpático, sorridente... e não tão santo quanto pintam
O jornalista Pedro Antunes esteve com Dave Grohl há pouco tempo, por conta de uma entrevista para a revista Rolling Stone Brasil – publicada este mês, com a chamada “Como o líder do Foo Fighters deixou a insegurança para trás e abraçou a vida como astro do rock”. Pôde conferir que o vocalista do Foo Fighters tem uma visão bem ampla sobre o universo do showbusiness.
“Nada parece segurar o ímpeto Dave Grohl. Sempre sorridente, ele faz o que quer, como quer e sempre com uma qualidade acima da média. O fato de ter aparecido para o mundo já como o ex-baterista do Nirvana, com uma banda promissora, o Foo Fighters, só ajudou na ascensão do músico norte-americano”, explica Antunes.
Mesmo que Dave seja tão simpático e bem-humorado, o jornalista sabe bem que está longe de ser um santo. “É bom lembrar que William Goldsmith, baterista da formação original, deixou a banda após Grohl ter decidido gravar as faixas do segundo disco do grupo sem ele. Grohl mesmo recusa o termo e o fato de ser cool. Prefere dizer que é o sujeito mais sortudo do rock. E, convenhamos, um pouquinho de marketing pessoal não atrapalha em nada, não é?”
Sem afetação
Autor do livro “O Som da Revolução – Uma História Cultural do Rock 1965 – 1969”, Rodrigo Merheb explica que o comportamento do músico é totalmente compatível com o cenário no qual apareceu – o grunge dos anos 90.
“Grohl vem de um cena no rock em que ataques de estrelismo eram muito mal vistos. O grunge se posicionou como a antítese do tipo de comportamento afetado tão comum nos astros pop dos anos 80. Quando o Nirvana entrou no Rock and Roll Hall of Fame ele citou nominalmente todos os bateristas que estiveram na banda antes dele e ainda se declarou a pessoa mais sortuda do mundo”, diz o escritor, para quem fica claro que o vocalista do Foo Fighters é um grande amante da música, embora não seja tão inspirado quanto seus ídolos. “Começou como um fã e continua até hoje, apesar de liderar uma típica banda sem graça de rock corporativo”.
Leque aberto
Grohl entende tão bem que a postura de um artista possui um peso tão alto como a sua produção, que passou a apostar alto na produção audiovisual. Primeiramente, veio “Back and Forth” (2011), que traça um retrato de Dave, um homem que não dá conta de lidar com seu perfeccionismo e foco excessivo em seus vários projetos – ao ponto de não dar apoio ao baterista Taylor Hawkins após uma overdose.
Em 2012, veio o ótimo projeto musical e audiovisual “Sound City”, em que Grohl convidou artistas que gravaram no lendário estúdio que dá nome ao filme – lugar onde nasceu o “Nevermind”, o antológico álbum do Nirvana – para registrar novas composições em sua recém-comprada mesa de som. Dois anos depois, a TV recebeu a série “Sonic Highways”, que acompanha a saga do Foo por oito cidades para compor e gravar as faixas do novo CD.

Toda a banda é bem legal, segundo o tecladista do Kaiser Chiefs   Questionado se Dave Grohl é tão legal quanto se fala por aí, o tecladista do Kaiser Chiefs, Nick “Peanut” Baines, preferiu ampliar os elogios para todo o quinteto. “Essa impressão tem a ver com a postura da banda. É um grupo de rock e todos eles adoram isso. É essa empolgação que faz com que o Foo Fighters seja tão bom. É uma banda que realmente faz valer a pena a compra de um ingresso”, afirma o tecladista, contando que o Kaiser Chiefs também aprendeu a ter essa postura frente ao trabalho. “Se é uma profissão que escolheu para toda a sua vida, você realmente tem que curtir fazer isso”.   E o Kaiser Chiefs também é uma banda que vale o ingresso. Assim, é bom chegar cedo à Esplanada do Mineirão, já que os Raimundos começam a tocar às 18h50 e o grupo britânico entra uma hora depois. O Foo sobe ao palco às 21h15 e tem que encerrar o show à meia-noite.    Ainda há ingressos no site ticketsforfun.com.br. A pista normal tem custo de R$ 300 e R$ 150 (meia-entrada), enquanto a pista premium sai por R$ 600 e R$ 300 (meia-entrada).    Participar de tantos projetos e parcerias é uma via de mão dupla   Para Gustavo Morais, jornalista que atua em vários sites de música (como Palco MP3 e Cifra Club), a imagem de Dave Grohl foi construída aos poucos. “Desde que o Foo Fighters apareceu, Dave começou a dar sinais do quão é um músico talentoso, honesto com o próprio trabalho e carismático. Ao longo dos anos, ele foi ficando cada vez mais bem relacionado com artistas das mais distintas gerações do rock. A lista de parcerias e de projetos dele é interminável e nós temos a sensação de que está em vários lugares ao mesmo tempo”.   Mas o jornalista faz uma ressalva: a onipresença de Grohl nos mais diferentes projetos musicais pode ser mal encarada por muitos. “Ser visto em todas as gigs e discos possíveis pode fazer com que um dia as pessoas se cansem e passem e encarar Grohl como arroz de festa”, explica. E realmente não dá para agradar a todo mundo. Desde que o Foo Fighters iniciou sua turnê sul-americana, choveram críticas nas redes sociais. Não foi difícil ver quem chamasse o vocalista de Dave “Grolha”. 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por