O maldito: poeta Leminski volta com surpresa e sucesso

Altino Filho - Hoje em Dia
26/05/2013 às 13:25.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:34

Foi com satisfação que muitos, apreciadores de poesia ou não, viram a chegada daquele catatau laranja quase fluorescente às primeiras posições dos mais vendidos. Reconhecido em vida como um poeta de excelente pegada, o paranaense Paulo Leminski (1944/1989), homem cheio de surpresas, acabou – em morte – surpreendendo outra vez: seu “Toda Poesia” ganhou ares de best-seller mais comemorado do ano. Caetano Veloso comemorou, José Miguel Wisnik comemorou, assim como milhares de compradores do livro lançado pela Companhia das Letras em todo o país. E o sucesso é justificado. Com um pé lá e outro cá, como um bailarino russo entre o clássico e o contemporâneo, Paulo Leminski dançou duas músicas, e quase que simultaneamente. Duas cantigas   Uma canção tocava poesia concreta, erudita e informada. O outro som era para embalar os marginais, aquela turma lírica que ficou conhecida como “geração mimeógrafo”. Nessa mistura, a rigidez da construção formal namorou o coloquialismo, e sua obra virou um edifício onde tanto o culto quanto o pop poderiam residir.    Caprichos & relaxos é um de seus títulos mais felizes se pensarmos no grau de fidelidade do rótulo em relação ao conteúdo. Muitos o conheceram somente em 1981 quando seu poema Verdura foi gravado por Caetano no LP Outras Palavras, apresentando o “samurai malandro” a um público amplificado. “De repente/me lembro do verde/da cor verde/a mais verde que existe/a cor mais alegre/a cor mais triste/o verde que vestes/o verde que vestiste/o dia em que eu te vi/o dia em que me viste/de repente/vendi meus filhos a uma família americana/eles têm carro/eles têm grana/eles têm casa e a grama é bacana/só assim eles podem voltar e pegar um sol em Copacabana”, diziam os versos que surpreenderam os seguidores de Caetano na época.    Em um artigo recente no jornal “O Globo”, José Miguel Wisnik tenta desvendar o “sucesso insólito” do livro laranja do “polaco louco paca”. E diz: “Há uma sensível necessidade de poesia no ar, e ela foi identificada nesse poeta inquieto, capaz de ir fundo nas suas formas ancestrais e nas suas mutações contemporâneas, de transcender polaridades e de exercer a leveza profunda”. O bigodão de Leminski está nas livrarias se exibindo para o público. Os não iniciados poderão estranhar um texto licencioso ou outro, mas com certeza também devem se encantar com poemas de pura beleza. Em 1989, aos 45 anos incompletos, ele se foi. E, como a surpresa sempre foi sua praia, renasce agora para deleite de todos. 

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