Orquestra Sinfônica de Minas Gerais retorna aos palcos com 'Stabat Mater'

Paulo Henrique Silva
Hoje em Dia - Belo Horizonte
28/08/2021 às 09:22.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:46
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FERNANDO MICHEL / N/A

Orquestra fará primeira apresentação com público após um ano e meio

Silvio Viegas não esconde a satisfação em voltar à batuta da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. “Um maestro vive da orquestra. Sem ela, é como não obter o instrumento de trabalho. Mesmo com poucos músicos, essa apresentação nos enche de alegria e esperança”, registra o regente, que comandará a orquestra da Fundação Clóvis Salgado neste sábado (28), às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes.

Viegas observa que escolheu o repertório de “Stabat Mater – O Drama do Barroco Italiano” levando em consideração três pontos importantes. O primeiro é, pelo fato de estarmos ainda em pandemia, seguir um protocolo de segurança em que pudesse reduzir o número de músicos no palco. São 17 de um total de mais de 60 integrantes da orquestra, pertencentes ao grupo de cordas.

“Felizmente, a orquestra de cordas tem um grande repertório para ela, o que nos deu a possibilidade de encontrar uma solução bastante feliz”, assinala o maestro, que optou por três peças: “Concerto para Piano e Orquestra N° 12”, de Wolfgang Amadeus Mozart, “Sinfonia Al Santo Sepolcro”, de Antonio Lucio Vivaldi, e a obra “Stabat Mater”, de Giovanni Battista Pergolesi.

Um destaque é “Stabat Mater”, que, como compositor de ópera, adequa a música ao texto de forma teatral, sobre a dor de Maria ao ver o filho Jesus sendo crucifixado. “Tem um lado dramático muito interessante, embora não seja encenada”, destaca. Junto às outras duas peças, Viegas acredita que reuniu um repertório “extremamente agradável ao público, mesmo aquele não acostumado a concertos”.

O tema predominantemente religioso é uma consequência de uma escolha musical, mas Viegas não tem dúvidas de que ele casa bem com o momento que vivemos. “As pessoas estão se voltando para a questão religiosa. A carne é muito fraca, nos termos de saúde mesmo. Somos seres perecíveis e saber que tem algo além disso é importante”, sublinha Silvio Viegas.

O concerto contará com três solistas: Pablo Rossi (piano), Lina Mendes (soprano) e Juliana Taino (mezzo soprano), grandes destaques no cenário da música erudita. Os ensaios foram feitos nos últimos dias e de maneira mais enxuta. “Aumentamos o número de informações antes da chegada para se minimizar o risco de contágio e de uma forma que o tempo menor não seja prejudicial ao resultado final”.DIVULGAÇÃO / N/A

A mezzo soprano Juliana Taino é um dos três solistas do concerto

"Uma sensação que não tem igual", observa solista

Para a mezzo soprano Juliana Taino, é muito simbólico realizar a peça “Stabat Mater” nesta pandemia. “Ela fala o tempo inteiro sobre a dor de uma mãe ao ver o filho sendo crucificado, em tamanha falta de humanidade. É muito interessante começar a temporada com essa obra, num momento em que perdemos entes queridos. Importante passar essa mensagem por meio de uma música que é belíssima”, analisa.

Juliana perdeu uma tia para o coronavirus e passou dias de grande angústia ao ver pai e mãe internados na UTI com Covid-19, em  São Paulo. “Só essa possibilidade, de uma perda tão fundamental, representou uma tensão muito grande. Fiquei 24 horas conversando em mensagem de vídeo com minha mãe. Queria estar com ali, acalmando todo mundo, até ela sair. Felizmente saiu dessa sem sequelas”.

A peça que será apresentada no Palácio das Artes tem gosto de novidade para a solista. “Nunca tinha feito inteiro, só algumas partes com piano”, ressalta Juliana, que se diz ansiosa para voltar aos palcos, com a presença de público. “A gente faz música para as pessoas assistirem. Estar num teatro é completamente diferente, pois há uma troca de energia instantânea. Uma sensação que não tem igual”, observa.

Ela se preparou bastante para o concerto desse domingo. “Olho o texto para entender o que vem mentalmente e no corpo, para pegar questões musicais e indicações. Gosto de chegar preparada o máximo possível para os ensaios, deixando para esse momento as questões mais técnicas”, explica Juliana, que não priva nem mesmo de procurar outras interpretações para a peça. “Tem gente que não gosta. Eu já gosto, pois aumenta as referências”.

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