‘Paixão Inocente’ é um filme sobre escolhas, sem culpas

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
26/06/2014 às 13:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:09
 (Paris filmes)

(Paris filmes)

Um caso extraconjugal. O tema pode parecer corriqueiro, motor de vários dramas românticos que puniram a traição (“Atração Fatal”) ou mostraram que a mulher não precisa ficar prisioneira de uma relação prejudicial (“Dormindo com o Inimigo”), mas o registro de “Paixão Inocente” foge a essas respostas simplistas que se escoram na moralidade.

Uma das estreias desta quinta-feira (26) nos cinemas, o filme de Drake Doremus primeiramente chama a atenção pela escolha dos seus planos, quase sempre em close, buscando tirar dos personagens mais do que as aparências mostram. Há muitos silêncios, palavras não-ditas e um olhar em que o espectador parece se perder nele em busca de respostas que não surgem imediatamente.

E nada disso seria convincente se Doremus não contasse com um elenco que correspondesse a essa premissa. Guy Pearce (“Los Angeles – Cidade Proibida”) e Felicity Jones (“O Espetacular Homem-Aranha 2”) conseguem fugir dos rótulos que geralmente envolvem um amor entre uma homem mais velho e uma mulher mais jovem. Amy Ryan (“Medo da Verdade”) não é a megera que cerceia o marido.

Sutilezas

São muitas as sutilezas em jogo, estampadas na maneira como o violoncelista Keith e a estudante de piano Sophie se aproximam, antecedida por um penoso adiamento de suas ações, sempre com a razão dominando os sentimentos.
Ao contrário dos romances mais açucarados, a paixão não é fulminante e os corpos não parecem ímãs que se reunirão de forma avassaladora.

São olhares, sorrisos e leves gestos que, antes de se convergirem prontamente para o sexo, evidenciam mais o medo de mudança, mais pés no chão em relação ao que vemos no cinema. No caso de Sophie, seus desejos são fruto da incompreensão sobre seus próprios sentimentos. Por entender a sensibilidade musical de Keith, ela talvez tenha se enamorado mais do músico sublime.

E Sophie possivelmente represente a liberdade que o violoncelista espera reaver, após mudar seus planos de vida por causa do nascimento da filha. Embora soe clichê, vinculado à rotina que ele se vê submetido, ela é muito crível, porque as obrigações com a família e o desgaste natural de uma relação não são convenções e sim desdobramentos comuns na vida de qualquer casal.

Doremus apontou para caminho semelhante em seu trabalho anterior, “Loucamente Apaixonados” (2011), quando enfocou um par de mesma idade, mas de nacionalidades diferentes. Nele também não há culpados. O que fica são apenas comportamentos que um não pode suportar devido a vários motivos e que dizem mais respeito às singularidades do que qualquer norma de vida a dois.

“Paixão Inocente” é um filme sobre escolhas, permanentes e passageiras, que percorrem a nossa vida. E a impressão é que o final não se fecha, não necessariamente desaguando numa vitória ou fardo. Surge como mais um caminho e, seja qual a for a escolha, ela é defensável diante de tudo o que foi construído – aspecto que torna o filme bem acima da média em relação aos seus congêneres.

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